segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A Perceção do Eu: o Auto - Conceito

A PERCEPÇÃO DO «EU»
1.O auto – conceito e a sua formação
Por auto – conceito entende – se o conceito que cada um tem de si e usa para se descrever – falar de si – e compreender – se. É uma espécie de auto – retrato.

O auto – conceito é a resposta que cada um de nós dá à pergunta «O que sou eu?». A resposta é o conjunto de crenças que cada pessoa tem acerca de si própria, um conjunto de atributos pessoais que em nós reconhecemos. Analisando o discurso que as pessoas fazem quando se descrevem a si próprias, podemos distinguir vários tipos de atributos:
a)Traços ou qualidades individuais – Podem ser características de valor geral (sou inteligente, alto, culto, honesto, desconfiado, sério, etc.) ou particularidades individuais (por exemplo, ser corajoso mas não suportar o sofrimento psicológico).
b)Estatuto – Posição que se ocupa no sistema social (adulto, pai, notário, advogado, marido, sindicalista, etc.)
c)Modelos internos – Esta expressão designa as características fundamentais de funcionamento do corpo e da mente (alguém pode descrever – se como tendo uma barba que cresce rapidamente, um metabolismo lento ou que a sua memória funciona melhor quando não lhe dá demasiado trabalho)
d)Padrões pessoais – Convicções sobre o que somos habitualmente, sobre o que é o nosso modo de ser habitual (por exemplo, «Habitualmente sou um mãos – largas») e como deveríamos e gostaríamos de ser («Seria bem melhor que fosse mais poupado»).
e) Atitudes a respeito de padrões ou modelos externos – todos nós temos noção do que nos distingue dos outros ao efetuarmos aquilo que os psicólogos designam por comparação social («não sou propriamente um desastre na escola mas a maioria dos meus colegas vai bem melhor do que eu».
O conceito do eu é descritivo e explicativo. Não só serve para nos apresentarmos aos outros, para nos descrevermos como também para explicar os sentimentos que experimentamos e as coisas que fazemos. Assim, por exemplo, dizemos «Uma vez que sou um pouco impulsivo reagi e respondi de imediato quase sem pensar» ou «Irritei – me porque por vezes perco o controlo».
A maioria dos psicólogos considera que o conceito de eu não é uniforme mas sim multidimensional. O eu é constituído por várias dimensões. É único mas assume diversas formas nos vários âmbitos da vida tais como a escola, a família, o trabalho, o grupo de amigos, etc. Assim, a par de um conceito geral do eu ou de mim, constituído por características que nos acompanham sempre – idade, estatura, capacidades e competências básicas – há um conceito específico do eu constituído por características que podem mudar de um contexto para outro. Uma pessoa pode pensar acerca de si que, enquanto está no grupo de amigos é alegre, extrovertido, confiante e em família um pouco retraído, fechado e pouco à vontade. A estas características específicas dá – se o nome de esquemas do eu. Estes esquemas estão para o conceito geral que temos de nós - para o nosso eu global - como os livros estão para uma biblioteca. Uma pessoa pode considerar – se a si própria como extrovertida ou introvertida, masculina ou feminina, dependente ou independente, liberal ou conservadora, optimista ou pessimista. Estes esquemas são quadros mentais mediante os quais organizamos o mundo e avaliamos o que somos, o que nos acontece. Influenciam a percepção que temos dos outros e de nós, permitem que nos avaliemos a nós e aos outros. Em suma, afetam o modo como processamos a informação social.
Temos auto – conceitos não acerca do que atualmente somos como também acerca do que poderemos ser, ou seja, de traços ou caraterísticas que podem servir para nos auto – descrever no futuro. A estes eventuais auto – conceitos dá – se o nome de «eus possíveis». Estes eus dizem respeito a papéis e objectivos tais como o desejo de a criança de cinco anos se tornar bombeiro ou o estudante se tornar médico. Os nossos eus possíveis são constituídos pelas percepções acerca do eu que gostaríamos de ser – rico, magro, forte, bem – sucedido no plano afetivo – mas também perceções do eu que tememos ou não desejamos vir a ser – desempregado, doente, mal sucedido na escola ou no amor, alcoólico. Contudo, apesar destes receios, as pessoas pensam acerca do que serão de forma positiva.
Outro aspecto do eu que influencia os nossos pensamentos e os nossos comportamentos é a diferença que sentimos entre o que somos e o que desejamos ser. Os psicólogos dão o nome de auto – discrepância a esta distância entre as nossas qualidades pessoais e as que gostaríamos de ter e julgamos também que deveríamos ter. Trata – se da diferença entre o eu idealo que queremos e julgamos que devemos sere o eu real. Quando temos a percepção da discrepância entre o que somos e as qualidades que desejamos podemos ficar desapontados, tristes e insatisfeitos.


1.1.Como se forma o auto – conceito.
Na formação do auto – conceito podemos destacar vários factores intervenientes: 1.A interação social; 2- A comparação social; 3 – O desempenho de papéis; 4 – As experiências pessoais e 5 - Os factores culturais.

Podemos formar um certo conhecimento de nós mesmos mediante a nossa própria experiência, observando e avaliando o nosso próprio comportamento. Podemos observar que preferimos certas comidas a outras, que algumas actividades nos desagradam e outras nos dão prazer, que há pessoas de que gostamos e outras cuja companhia evitamos. Ao analisar estas regularidades no nosso comportamento podemos formar uma determinada ideia do que somos. A este processo dão os psicólogos o nome de auto – perceção. Contudo, a maioria dos psicólogos sociais pensa que esta forma de auto – conhecimento é útil somente no que diz respeito a aspectos do eu que não são centrais ou que são pouco importantes. Muito do nosso auto – conhecimento advém da socialização, da interação com os outros. Os estudos de psicologia social mostraram que as fontes sociais de informação sobre o eu são claramente as mais importantes. Na relação com os outros temos ocasião de aprender coisa sobre nós e formar uma ideia mais complexa e articulada de nós mesmos. Não são os eremitas, nem os pastores solitários que se encontram nas melhores condições para se conhecerem a si mesmos. Quem tem uma vida social rica, atento ao que acontece aos outros, ao que estes fazem e dizem está em condições mais adequadas de formar o seu auto – conceito.

1.1.1.  A interação social
Ao interagirmos com os outros, o ambiente social funciona como uma espécie de espelho que reenvia informações sobre o que somos. Como foi salientado pelos defensores do interacionismo simbólico, saber como as pessoas se vêem a si mesmas é indispensável para compreender as suas ações. Para os partidários desta perspetiva, o nosso mundo interior tem uma origem social. Daí terem mostrado um interesse assinalável no modo como através das relações sociais se forma a consciência de si. O seu grande mérito foi o de: 1 – mostrarem que o eu não é uma entidade puramente individual mas sim uma construção mental que se forma durante a experiência e a interação sociais; 2 – mostrarem que para obtermos informação sobre nós na interação social é importante possuirmos a capacidade de descentramento, ou seja, saber assumir idealmente o papel do outro e vermo – nos como os outros se vêem (ou imaginam ver – se) na sua posição.
O espelho em que o eu se vê foi como o sociólogo Charles Cooley descreveu o nosso uso dos noutros como espelho em que nos percepcionamos a nós mesmos. Vemos o nosso reflexo no modo como somos percepcionados pelos outros. Herbert Mead, seu colega, acrescentou uma diferença significativa: O que importa para o nosso auto – conceito não é tanto o que os outros realmente pensam de nós mas sim o que nós pensamos ou julgamos que eles pensam de nós.
Muitas vezes os outros dizem – nos abertamente o que pensam de nós. Mas, na maior parte dos casos, as informações ou opiniões sobre nós não são explicitamente expressas. Descobrimo - las analisando as «entrelinhas», o que está implícito e raciocinando sobre o modo como os outros se comportam connosco. Quando os outros pensam bem de nós isso ajuda – nos a pensarmos positivamente sobre nós. As crianças que são caraterizadas como dotadas, trabalhadoras, eficientes e solidárias tendem a incorporar esses traços no seu auto – conceito. Se estudantes pertencentes a minorias se sentem ameaçados por estereótipos negativos acerca do seu desempenho académico ou se as mulheres se sentem também ameaçadas por baixas expectativas sociais acerca da sua capacidade em matemáticas e ciências a tendência é, em geral, para não se identificarem com estes domínios e procurarem interesses e auto – realização noutras áreas.
Qualquer interação dá – nos informações sobre o que somos mas contam sobretudo aquelas provenientes de pessoas que representam para nós um espelho importante. Fala – se neste caso de «outros significativos» - a expressão é de Herbert Mead. É frequente que o outro significativo seja alguém com quem temos laços importantes – um progenitor, um familiar, um amigo, um educador, etc) ou que consideremos um especialista num dado assunto que nos interessa ou mesmo um vizinho que está a par dos problemas da nossa vida.

1.1.2.  A comparação social.

Por vezes, quando queremos saber o que valemos em dada actividade a informação não está imediatamente disponível. Por exemplo, se quer saber se dança bem, pode acontecer que não nenhuma pessoa entendida disponível para dar uma opinião. Pode pensar em perguntar a alguém mas por timidez não o faz. Então, nestas circunstâncias, avaliamos as nossas qualidades pessoais comparando – nos com outras pessoas. Saberá se tem algum dote para a dança observando os outros e verificando se dança melhor ou pior. Este processo de auto – avaliação tem o nome de comparação social.
O conhecimento que cada um tem de si baseia – se muito na comparação com os outros.
Comparamo – nos habitualmente com indivíduos ou grupos de referência, ou seja, com indivíduos ou grupos que, acerca de determinados aspectos, consideramos modelos a ter em conta. Pode também acontecer que nos comparemos com modelos ocasionais, pessoas que, embora não constituam referências estáveis e duráveis, se tornam significativas em dadas circunstâncias.
A comparação social fornece critérios, termos de referência para estabelecer o que somos e como somos. Olhando à nossa volta podemos notar o que temos em comum com os outros e o que nos distingue deles. Além disso, a comparação com os outros pode ajudar – nos a resolver dúvidas sobre nós mesmos, esclarecendo se as nossas opiniões acerca de nós são adequadas. Neste caso, procuramos comparar – nos com pessoas semelhantes a nós, próximas do nosso nível ou que se encontrem em situação semelhante à nossa.
O nosso auto – conceito inclui não só a nossa identidade pessoal – os nossos atributos próprios – como também a nossa identidade social e cultural. A definição social do que somos – o grupo étnico, a religião, o género, o grau académico – implica a noção do que não somos. Na resposta à questão «O que sou eu?» a identidade social é o conjunto de aspectos que se devem ao facto de pertencermos a vários grupos sociais: «Sou católico, advogado, angolano, etc». Quando fazemos parte de um pequeno grupo que vive rodeado por um grande grupo, quando somos a minoria no seio da maioria dominante, temos maior consciência da nossa identidade social. Quando fazemos parte da maioria, pensamos menos nessa dimensão do nosso eu. Como português que vive na Dinamarca tenho uma consciência mais viva da minha identidade social e cultural, o mesmo acontecendo com um canadense que viva em Angola. Na Grã – Bretanha, onde os ingleses são dez vezes mais do que os escoceses, boa parte da identidade dos escoceses define – se mediante o que os diferencia dos ingleses: «Ser escocês é, em certa medida, detestar os ingleses ou sentir ressentimento a seu respeito». Os ingleses não pensam muito, dado pertencerem à maioria, no seu carácter não – escocês. Na maioria dos hotéis da Escócia, os hóspedes ingleses escrevem «Britânico - British» no livro de hóspedes, ao passo que os escoceses – que também são britânicos - escrevem «Escocês». Por sua vez, os estudantes das universidades inglesas identificam – se mais como britânicos do que como europeus.
A comparação social permite avaliar as nossas capacidades, competências e opiniões mediante a comparação com os outros. Molda a nossa identidade como ricos ou pobres, muito ou pouco inteligentes, altos ou baixos, cultos ou incultos, fleumáticos ou temperamentais, dependentes ou independentes, individualistas ou não. Ao compararmo – nos com os outros tomamos consciência do que deles nos diferencia e das características que com eles partilhamos.
A comparação social como forma de consciência de si, está ligada ao contexto sócio – cultural do indivíduo. O conceito de si, a auto – estima e a identidade dependem das pessoas com quem vivemos e que constituem os nossos termos de comparação. Verificou – se, por exemplo, que a generalidade dos melhores alunos das escolas de nível mais baixo têm uma auto – estima mais alta no que respeita à instrução e aos resultados escolares. Este fato compreende – se se pensarmos que os seus colegas são, em geral, termos de comparação medíocres. O contrário sucede com os alunos de escolas mais seletivas e de alto nível: uma vez que se relacionam com alunos de alto rendimento, tendem a avaliar com mais severidade as suas prestações escolares. Num pequeno lago, um peixinho sente – se um peixe…
Num experimento datado de 1970, S.J: Morse e K.J. Gergen encenaram uma seleção de estudantes do ensino secundário para um trabalho de verão. Pedia – se aos candidatos que preenchessem vários módulos, entre os quais um teste de auto – estima. Durante uns minutos, os candidatos eram deixados sozinhos a preencher os testes. Pouco depois entrava um outro candidato que na realidade era um colaborador do experimentador. Em metade dos casos, era o denominado «senhor elegante e asseado», com bom aspecto, elegante, com uma pasta da qual tirava um belo caderno, uma régua e um livro de filosofia. Na outra metade dos casos, comparecia o «senhor desleixado e mal arranjado», com a barba por fazer, roupa por passar a ferro, sonolento e com um livro pornográfico na mão. Os indivíduos que fizeram o teste de auto – estima na presença do «senhor elegante e asseado» consideraram – se melhores do que os outros. A comparação dos indivíduos com o modelo ocasional influenciou o seu teste de auto – estima. Deve notar – se que os participantes viviam um momento de incerteza porque se candidatavam a uma prova e que a pessoa que surgia na sala era considerada um competidor, um semelhante.


1.1.3.  O desempenho de papéis.
Quando as pessoas, na vida social, interpretam um papel facilmente desenvolvem uma consciência de si. Isto vale para os papéis estáveis e formais – professor, advogado, burocrata, pai, marido, etc – e para os papéis ocasionais e informais como tomar posição numa discussão, fazer de cavalheiro ou de «mauzão», etc. Os papéis que desempenhamos moldam a nossa personalidade. Num famoso estudo de como o papel que interpretamos pode influenciar a nossa personalidade e a maneira como nos vemos, R.K. Merton analisou a relação entre papéis burocráticos e a personalidade. Observou que o burocrata tende a ser metódico, prudente e disciplinado mesmo quando isso não é necessário para a sua actividade e mesmo quando não a está exercer. Ou seja, tende a ser metódico, prudente e disciplinado em todas as áreas da sua vida. Fazemos repetidamente as ações que estão previstas no nosso papel – que correspondem às expectativas dos outros – comportamo – nos daquela forma e por uma questão de coerência acabamos por acreditar que afinal de contas somos assim. Por exemplo, o burocrata pensará: «Se faço habitualmente o papel de indivíduo metódico isso quer dizer que sou metódico e organizado. As expetativas e exigências sociais associadas a um certo papel traduzem – se em comportamentos habituais e o comportamento habitual em convicção de que somos realmente assim.

1.1.4.  As experiências pessoais.
O auto – conceito é igualmente influenciado pelas nossas experiências quotidianas. Aceitar tarefas desafiadoras mas ao mesmo tempo realistas e ser bem sucedido promove o sentimento de si como competente. Segundo vários investigadores, entre os quais Bandura, dominar as competências físicas necessárias para repelir um assalto sexual, dá às mulheres uma sensação de controlo da situação reduzindo significativamente a vulnerabilidade e a ansiedade. Após vários testes bem sucedidos, muitos estudantes formam um auto – conceito muito positivo acerca das suas capacidades académicas, o que por sua vez reforça e estimula a vontade de trabalhar mais e obter ainda mais sucesso. Dar o melhor e conseguir ser dos melhores dá auto – confiança e uma agradável sensação de poder.
O princípio «O sucesso é o combustível da auto – estima» foi adoptado por alguns psicólogos que pensaram que a auto – estima poderia ser fortalecida e aumentada com mensagens positivas («Tu és alguém! Tu és especial!). A baixa auto – estima causa por vezes graves problemas. As pessoas com uma boa opinião de si mesmas são mais felizes, menos neuróticas, menos perturbadas por úlceras e insónias, menos propensas ao uso de drogas e abuso de álcool e mais persistentes e lutadoras após algum insucesso. Por outro lado, problemas e fracassos estão na origem de baixa auto – estima. Os sentimentos seguem a realidade. Conforme vencemos desafios e aprendemos competências a auto – estima sobe. Se acontece o contrário, se os fracassos se sucedem, a auto – estima desce. Contudo, as mensagens positivas referidas são simplesmente uma parte do processo de tentativa de melhorar a nossa imagem perante nós. A auto – estima numa criança, por exemplo, não se constitui meramente através de mensagens positivas – dizer – lhes que são únicas, maravilhosas, especiais e que basta querer para conseguir. É preciso que elas trabalhem e se esforcem por ser bem sucedidas.
No capítulo das experiências pessoais devemos destacar também a importância das experiências sociais indiretas. Não é necessário entrar diretamente nas interações, nas comparações sociais e na interpretação de papéis. Podemos constituir aspectos do nosso eu mediante as experiências sociais de outras pessoas com as quais de algum modo nos identificamos (pessoas a que estamos ligados, das quais nos sentimos próximos, grupos a que pertencemos ou dos quais somos adeptos, seguidores ou admiradores). Assim sendo, uma má opinião sobre a nossa escola diminui um pouco o valor que nos atribuímos, tal como o fracasso do nosso clube ou de alguém que admiramos. Por outro lado, saber que a nossa escola está no top das melhores escolas inflaciona o nosso ego, o sucesso e a fama de um antigo colega, fazem com que desfrutemos de uma glória reflexa ou indireta, tal como a vitória do nosso clube ou da seleção do nosso país.

1.2.   A auto – estima: a avaliação de si mesmo.
Quando pensamos em nós não nos limitamos a compreender como de facto somos mas também nos avaliamos. Avaliamos como positivo ou negativo determinado aspecto ou característica que nos pertence estabelecemos quão positivo ou negativo é. Uma pessoa não é simplesmente estudante ou professor. Avalia – se como bom ou mau estudante, como bom ou mau professor, como indiferente ou empenhado. Não nos vemos simplesmente como tendo um rosto e um corpo mas também como tendo um rosto ou um corpo atraentes ou não. A nossa personalidade, o nosso eu, não é um conjunto de características neutras: temos traços ou características de que gostamos ou de que não gostamos.
A auto – estima é o conjunto de avaliações ou de juízos de valor que um indivíduo faz sobre si mesmo. É o sentimento do valor que temos ou que julgamos ter.
A auto – estima é a componente afetiva da nossa personalidade, o conjunto de auto - avaliações positivas ou negativas acerca do que somos.
O auto – conceito (as nossas crenças e conhecimentos acerca do que de facto somos) e a auto – estima estão intimamente ligados porque quando pensamos no que acreditamos ser, há a tendência para nos avaliarmos e para nos avaliarmos temos de saber como somos. Contudo, em contraste com o conceito de si ou auto – conceito, na auto – estima prevalece o factor emocional.
Tal como o nosso auto – conceito, a nossa auto – estima é multidimensional, ou seja, é constituída por várias dimensões. O modo de nos auto – avaliarmos varia de um âmbito da vida, ou de um aspecto do eu, para outro. Por exemplo, no que respeita à nossa vida académica podemos considerar – nos bons alunos, bons professores ou bons investigadores ao passo que no respeitante ao nosso aspecto físico podemos avaliar – nos negativamente, ou seja, como excessivamente pesados, muito baixos ou mesmo feios.
Por outro lado, a auto – estima varia com o tempo. Dependendo da situação, por vezes sentimo – nos bem com o que somos e fazemos ao passo que noutras alturas nos sentimos mal. Estudos revelaram que a passagem do primeiro ciclo do ensino para o segundo, em virtude de desafios mais complexos, produz em muitos estudantes uma descida da sua auto – estima. Contudo, a pouco e pouco na maioria dos casos, a auto – estima volta a aumentar. A auto – estima é relativamente flutuante. Assim, num curto espaço de tempo pode subir e descer: sentimo – nos bem após um bom resultado num teste e mal – com fraca auto – estima – após um teste fracassado.
Todos nós passamos por momentos de baixa auto – estima, sobretudo após fracassar num objectivo importante, e há pessoas que são cronicamente deficientes em auto – estima. Neste último caso, as consequências são desagradáveis e profundas, tais como doenças físicas, perturbações psicológicas e dificuldade em lidar com situações de ansiedade ou momentos em que somos postos à prova.
Uma baixa auto – estima é prejudicial
Uma baixa auto – estima é prejudicial porque pode tornar – parte daquilo a que os psicólogos chamam o ciclo do fracasso. Pense no caso do aluno que, com baixa auto – estima, com tendência para desvalorizar as suas capacidades de aprendizagem, se prepara para enfrentar um teste. Devido à sua fraca auto – estima, a sua expetativa é a de que vai ter um fraco resultado. Esta perspectiva negativa, por sua vez, produz uma grande ansiedade que pode conduzir a uma redução do esforço a aplicar no estudo - «Para quê estudar se sou um incapaz?». Altos níveis de ansiedade e redução do esforço conduzem a um resultado negativo, a um fracasso no teste. Este fracasso reforça ou consolida a baixa – auto – estima, criando expetativas negativas para um próximo desafio. E assim, o ciclo do fracasso continua. 

Uma alta auto – estima pode ser prejudicial
Uma elevada auto – estima, ter – e em boa conta, é frequentemente uma atitude positiva. Contudo, nem sempre á assim.
NOTA NA MARGEM - Normalmente, as pessoas com boa auto – estima são pessoas com um bom conhecimentos das suas capacidades e limitações, isto é, sabem o que podem fazer bem e em que domínios da vida não serão tão bem – sucedidos. Estudos mostraram que as pessoas com boa auto – estima têm um melhor conhecimento de si mesmas do que as pessoas com fraca auto – estima.
Certos estudos mostram que pessoas com alta auto – estima podem sobrestimar, em determinadas circunstâncias, as suas capacidades. Isto acontece especialmente quando as suas capacidades são objecto de desafios ameaçadores. Por outro lado, a ideia errada que têm de si mesmos e das suas competências, podem conduzi – las a assumir compromissos que excedem o que está ao seu alcance. Noutros casos, quem tem uma elevada auto – estima pode adoptar comportamentos violentos quando a opinião muito favorável que tem de si mesma é ameaçada ou posta em causa por uma dada pessoa ou circunstância. É provável que tivesse sido esta a razão que levou um estudante da Califórnia a matar três professores quando se apercebeu de que a sua classificação podia descer nas provas orais a que iriam submetê – lo.


1.2.1.Como nos auto – avaliamos?
A auto – estima é algo complexo, não só devido à sua estrutura multidimensional como também por ser o resultado de processos de auto – avaliação que nada têm de simples.
Costuma – se pensar que nos auto – avaliamos confrontando simplesmente o nosso eu real com o nosso eu ideal, o que somos de facto com o que desejaríamos ser. Na verdade, o processo é mais complexo e envolve vários elementos a que os psicólogos chamam padrões. Podemos destacar quatro critérios de auto – avaliação:
a)Padrões pessoais ideais.
Exprimem o nível que se gostaria de alcançar ou que pensamos que devemos atingir. Ex: «Seria melhor que me empenhasse mais nos estudos» ou «gostaria de ser um estudante mais aplicado e organizado».
b)Padrões pessoais normais.
Exprimem o nosso modo habitual de ser. Ex: «Habitualmente sou um pouco preguiçoso e dedico – me pouco ao estudo».
c)Padrões sociais – São estabelecidos pelo grupo de referência a que pertencemos ou por outras pessoas de significativa importância. Ex: «Os meus colegas estudam mais do que eu e muitos obtêm por isso melhores resultados».
d) Padrões mínimos – Dependem do que consideramos ser o nível mínimo aceitável. Ex: «Não sou daqueles que estudam muito mas alguma coisa faço».
Adotamos este ou aquele padrão – critério de auto – avaliação – conforme os casos. Assim, se penso numa prova de atletismo que estou prestes a disputar, terei a tendência para avaliar a minha prestação atlética comparando – me com os outros atletas. Se não me sinto em forma referir – me – ei às minhas condições atléticas habituais. Ao planear a minha preparação para a prova é muito provável que tenha em mente padrões ideais, como conquistar um lugar no topo.


2.Estratégias de manutenção de uma identidade pessoal positiva: como procuramos manter a nossa auto – estima.
Habitualmente temos uma razoável noção das nossas virtudes e dos nossos defeitos. Contudo, não olhamos para nós da forma relativamente desapaixonada com que frequentemente olhamos para os outros. Na verdade, a maioria das pessoas procura proteger – se de informações dolorosas, pouco agradáveis. Em boa parte dos casos, quando nos confrontamos com opiniões negativas acerca de nós mesmos, interpretamos essa informação de uma forma que preserve e proteja a impressão positiva que temos de nós.
Adoptamos várias estratégias para manter a auto – estima:
1 – A afiliação orientada ou auto - consistência – Para manter e proteger a avaliação que fazemos de nós, é habitual que procuremos associar – nos com pessoas e grupos que confirmem a imagem que temos de nós. Não é necessário que o façamos com palavras. O que importa é que, estando com essas pessoas e grupos, as comparações que fazemos, os papéis que desempenhamos, as interações em que participamos e as experiências indiretamente vividas acabem por reforçar a ideia que temos de nós. Por auto – consistência entende – se a tendência para interpretar as opiniões dos outros ajustando – a à forma como nos vemos a nós mesmos e também a tendência para preferir pessoas que confirmam o que pensamos de nós. Como a maioria das pessoas têm uma imagem positiva de si, preferem normalmente informações ou opiniões positivas que reforcem a sua auto – estima. Pessoas que não gostam de si mesmas como é o caso das pessoas com inclinação para a depressão preferem também a companhia de pessoas que têm uma visão negativa de si mesmas.
2 – Atribuir a nossa incompetência ou os nossos defeitos às circunstâncias e não a disposições pessoais ou características pessoais (Actor – Observer bias).
Imagine que está numa longa fila de trânsito que avança muito lentamente. A certa altura começa a buzinar com muita frequência. Se lhe perguntarem porque faz isso diz que o seu comportamento se deve ao desejo de chegar a tempo a uma reunião importante em vez de, como pensarão outros condutores se dever a um temperamento rude e impaciente. Por outras palavras, defende que o seu comportamento é simples reação à situação e não algo que tenha a ver com a sua personalidade: a situação é que provocou a sua má disposição. Deste modo, sobrevalorizou o factor situacional e subvalorizou o factor disposicional. O que fizeram os condutores que o julgaram rude e impaciente? Sobrevalorizaram o fator disposicional atribuindo o seu comportamento a características relativamente estáveis como o temperamento e o caráter. Por que razão os observadores tendem a atribuir certo comportamento a factores internos ou disposicionais – temperamento e carácter – ao passo que os atores tendem a atribuir os seus comportamentos a factores externos, isto é, à situação que é vivida?
A primeira razão tem a ver com diferenças percetivas. Quando os atores estão envolvidos numa situação, a sua atenção centra – se no que acontece no mundo externo. Por seu lado, os observadores, em vez de responderem ao que acontece à sua volta, centram a sua atenção sobretudo no comportamento dos atores.
Outra razão para a diferença de avaliação dos comportamentos é o facto de os atores terem mais informação do que os observadores acerca de si mesmos. Sabem o que se passa com a sua vida, se estão nervosos ou aborrecidos com alguma coisa que aconteceu na noite passada ou em dias anteriores, sabem que em diversas situações se comportaram de modo diferente. Vejamos: Porque tenho de entregar um trabalho importante a um dos meus professores e me atrasei posso, para remediar a falta de cuidado, passar toda tarde na biblioteca da escola a trabalhar freneticamente. Quem me vir – o observador – pode pensar que sou um estudante muito aplicado. Na festa para que fui convidado, depois de vários meses em que me dediquei ao meu trabalho dancei toda a noite. O observador ou os observadores poderão pensar que sou muito dado a festas dada a minha vitalidade e disponibilidade. Posso limpar a minha casa de banho e a cozinha durante várias horas para receber a visita dos meus pais porque me tenho descuidado demais. Um determinado observador que não conheça esse facto pode julgar que tenho alguma obsessão com a limpeza.

3 – Erguer obstáculos difíceis de ultrapassar
Todos gostamos de ser bem sucedidos. Mas a verdade é que o fracasso é uma possibilidade sempre em aberto. Como o fracasso reduz a nossa auto – estima e é desagradável, usamos muitas vezes uma táctica a que os psicólogos sociais dão o nome de self – handicapping para lidar com ele de forma a proteger o nosso ego. Esta táctica consiste em criar situações que possibilitem atribuir o fracasso ou fracos desempenhos não à nossa incapacidade mas a factores externos ou a causas menos dolorosas para a nossa auto – estima.
Pessoas muito inseguras, que não confiam ou acreditam nas suas capacidades, tendem a envolver – se em ações das quais resultam obstáculos que impedem o sucesso. Deste modo, quando mais tarde tiverem de enfrentar o insucesso podem atribuí – lo ao obstáculo e não à sua falta de capacidade ou de talento. O aluno que, com a expectativa de obter negativa no teste de matemática, fica acordado quase toda a noite pode proteger a sua auto – estima atribuindo o fracasso à fadiga e não a deficiências próprias.
Não nos limitamos a criar obstáculos auto – desculpabilizantes e ato – protetores. Também invocamos características pessoais para proteger a imagem que temos de nós e reduzir a frustração. É o caso de pessoas que atribuem à ansiedade que as caracteriza em situações difíceis o seu fraco desempenho, de pessoas que se desculpam com doenças, com a sua timidez ou outros factores internos difíceis de controlar.
4 – Auto – desculpabilização.
Uma coisa é criarmos obstáculos que protejam a nossa auto – estima perante o fracasso, outra coisa é usar o que nos acontece, as circunstâncias, para nos desculpabilizarmos perante o insucesso. Assim, podemos usar as circunstâncias como forma de nos desculparmos por não sermos bem sucedidos: «O cão ladrou toda a noite e não me deixou dormir»; «O relvado não estava em condições»; «O árbitro não assinalou uma grande penalidade»: «A minha avó esteve doente».
A sabedoria popular aconselha – nos a não inventar desculpas e a aceitar as nossas ações e as suas consequências. Estudos recentes mostraram que as pessoas com tendência para a auto – desculpabilização têm auto – estima superior, melhores desempenhos e mesmo melhor saúde física do que as que recusam apelar a desculpas perante insucessos.
O processo de auto – desculpabilização é um processo em que atribuímos as razões do nosso fracasso a causas menos importantes e centrais. Assim, poupamo – nos ao confronto com a verdade. Normalmente, desviamos do interior – fatores pessoais como incapacidade, fraca inteligência – para o exterior, para as circunstâncias, as causas do insucesso. Centrando – nos mais na situação do que em nós, protegemos em certa medida a imagem que temos de nós.
5 – Ilusões positivas
Muitas pessoas têm uma percepção exageradamente positiva das suas capacidades e talentos. A esta percepção de si que não corresponde à realidade mas que protege a auto – estima dão os psicólogos o nome de ilusões positivas. Por exemplo, quando se pede à maioria das pessoas para se descreverem e descreverem os outros usando adjetivos positivos e negativos, a tendência generalizada é para se avaliarem de forma mais positiva a si mesmas do que aos outros. Damos mais relevo e relembramos mais facilmente informação positiva acerca de nós mesmos enquanto a informação negativa ocupa lugar muito menos destacado. Atribuímos a causa do nosso sucesso às nossas capacidades e o insucesso a «um mau dia» ou «a falta de condições».

Sem comentários:

Enviar um comentário