sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O conceito de inteligência emocional e suas implicações nas relações interpessoais.

  1. O conceito de inteligência emocional e suas implicações nas relações interpessoais.
“Qualquer um pode zangar-se, isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa não é fácil”.
Aristóteles

Hélder era um jovem genial mas falhou na vida. Era genial e sabia – o mas tinha um defeito grave. Era demasiado arrogante. Quando criança, tinha o irritante prazer de desvalorizar os colegas, mostrando – lhes quão pouco sabiam e que eram muito menos espertos do que ele. Com os adultos adoptava uma táctica diferente. Adoptava comportamentos insolentes que queriam dar a entender aos adultos que estes eram mais velhos e mais fortes mas que eram menos inteligentes e capazes do que ele. Era previsível que estas atitudes e comportamentos causassem vários conflitos. Para piorar as coisas era um indivíduo emocionalmente instável: ora comunicava de modo expansivo com os outros, ora se fechava completamente não querendo saber de ninguém. Além disso, parecia não saber controlar os seus impulsos. Quando queria uma coisa, queria – a logo, imediatamente. Esperar, ter paciência, era para os outros, não para ele. Conseguia ser simpático e boa companhia mas só quando queria. No fundo, para ele os outros não contavam. Não parecia realmente interessado nas outras pessoas. As relações que desenvolveu foram temporárias, sem grande significado. Relações vazias. Este feitio acabou por transformar uma brilhante promessa num indivíduo que não cumpriu o que dele se esperava. Os graves problemas por que passou na escola e mais tarde na vida (acabou isolado porque ninguém tinha paciência para suportar a sua arrogância e a tendência para fazer dos outros criados de servir dos seus interesses e manias) deveram – se a uma falta de tacto e de sensatez nas relações com os outros. O que tinha «a mais» em inteligência cognitiva, faltava – lhe em inteligência emocional. Sob certos aspectos, era brilhante, um sobredotado. Sob outros aspectos, um indivíduo com graves problemas de desenvolvimento. Teve uma vida improdutiva, conflituosa e infeliz.
A inteligência emocional é uma forma de inteligência ligada à capacidade de reconhecer e gerir as nossas emoções, de nos compreendermos, de compreender as intenções e sentimentos dos outros, de nos automotivarmos mas também de restringir os nossos impulsos para que saibamos relacionar – nos com os outros.

Segundo Daniel Goleman, criador do conceito de inteligência emocional, um conceito de inteligência baseado somente em capacidades cognitivas é demasiado redutor e limitado. Afirma que mesmo pessoas com QI elevado não são necessariamente bem sucedidas na vida, fazendo coisas que muitas vezes nos parecem disparatadas. Nada impede que uma pessoa com excelentes resultados em testes de quociente intelectual
seja fraco estudante universitário e mau profissional. Goleman acredita que estas situações desconcertantes derivam de falta de inteligência emocional.
Na verdade, boa parte das nossas acções são guiadas pelas nossas emoções e não pelas nossas habilidades e competências intelectuais. Segundo Goleman, a inteligência emocional é uma capacidade multifacetada de adaptação ao meio. Quem é dotado de inteligência emocional tem uma boa percepção dos seus estados emocionais, autocontrolo, um apurado sentido de avaliação das suas capacidades, autoconfiança, flexibilidade na adaptação às mudanças, capacidade de iniciativa e de inovação e gosto por desafios cuja resolução esteja relativamente a o seu alcance. Um exemplo de pessoa com inteligência emocional é a que, estabelecido um objectivo, o persegue razoavelmente, não transformando pequenos obstáculos em razões para desistir. Determinação e autoconfiança realista são as palavras correctas para caracterizar a pessoa com inteligência emocional. Não é necessário ser uma pessoa intelectualmente brilhante para ter este tipo de inteligência. Na verdade, há pessoas intelectual ou cognitivamente muito dotadas que, por falta de automotivação e de autoconfiança, fracassam na vida.

1.1.         As principais componentes da inteligência emocional.
Daniel Goleman sugere que a inteligência emocional é uma habilidade constituída por várias aptidões: O conhecimento ou consciência das nossas emoções; saber gerir e controlar essas emoções; capacidade de automotivação; saber reconhecer as emoções dos outros e ser capaz de estabelecer e de manter relações com os outros que sejam relativamente estáveis e duráveis.
A – Auto – conhecimento: o conhecimento ou consciência das nossas emoções.
Parece estranho, mas nem sempre somos capazes de reconhecer ou identificar os nossos sentimentos e emoções. Ora quem não tem esta percepção relativamente clara do que sente – Será que gosto dela? Será que este trabalho me vai realizar? Será que tenho vocação para médico? – muito dificilmente fará escolhas inteligentes. Daí resultam casamentos fracassados, insatisfação profissional, etc. Como quem não se conhece bem em termos emocionais, não sabe dar a entender aos outros os seus reais sentimentos – não os exprime adequadamente – as relações interpessoais são prejudicadas. É próprio das pessoas com este tipo de habilidade emocional, saberem se as suas decisões são dirigidas por pensamentos ou por sentimentos.
B – Auto – controlo: saber gerir e controlar as emoções.
Por vezes reconhecemos que «perdemos a cabeça», que não soubemos controlar as nossas emoções e reagimos irritados a um comentário que devíamos ter tratado com uma certa ironia e sarcasmo. Por vezes, sentimos a necessidade de realizar uma certa actividade para reduzir a ansiedade, evitar que a tristeza tome conta de nós ou mesmo que fiquemos deprimidos. Não é conveniente que nos deixemos dominar por certas emoções porque isso perturba a nossa saúde mental e as relações com os outros. Devemos saber controlar o nosso temperamento um pouco impulsivo porque os outros não andam neste mundo para nos «aturar». Quantos empregos se perdem e casamentos e namoros acabam por causa de não sabermos dosear os nossos impulsos.
As pessoas dotadas desta qualidade sabem dar valor às «pequenas coisas da vida», como ouvir música agradável, tomar um bom banho, comprar um presente para si ou para alguém de que gostam, e transformam pequenos sucessos – como não esturrar o arroz de ervilhas numa fonte de satisfação. Procuram retirar das pequenas actividades do quotidiano – que para muitos de nós são corriqueiras e desinteressantes – um grau de satisfação que é superior ao valor da actividade considerada em si mesma. Reconhecem as suas forças e fraquezas e são capazes de rir de si mesmas.
C – Auto – motivação: saber automotivar – se.
É importante que uma pessoa saiba motivar – se quando tem pela frente um longo e árduo trabalho, mantendo um certo grau de entusiasmo e optimismo acerca dos resultados do esforço. Outra coisa importante: saber adiar a recompensa final, mesmo que para isso tenha de renunciar a gratificações intermédias e mais pequenas.
Sabe – se que os americanos valorizam muito os testes de QI. Os americanos de origem asiática superam outros grupos étnicos nesse tipo de testes. Têm grande sucesso em termos de ocupação de empregos e são considerados profissionais muito bons. Contudo, o seu QI está muito próximo da média geral dos americanos. Não é aí que reside a diferença decisiva que explica o seu sucesso. Então por que razão são tão bem sucedidos? Provavelmente porque têm altos índices de motivação para o sucesso, maior capacidade de suportar longos esforços e de manterem a motivação a níveis relativamente elevados durante os processos de candidatura a empregos e durante o exercício dos cargos a que ascenderam.
D – Saber reconhecer as emoções e sentimentos dos outros.
Quando dava aulas em Vila Franca e morava em Lisboa costumava fazer parte do percurso na companhia de alguns alunos e alunas. Certa vez, um deles, um rapaz muito extrovertido e falador decidiu contar o que tinha feito na aula de Francês. A viagem durava vinte minutos e qualquer pessoa contaria a história em 3 ou 4 minutos. Mas não. O Marco gastou a viagem toda a contar o que fizera, enchendo o relato de pormenores deslocados e sem interesse. A certa altura, já estava tudo «enjoado» e sem a menor paciência. Ninguém se manifestou, contudo. Tive vontade de interromper o Marco para lhe dizer que concluísse mas contive – me para não ser indelicado. Assim fizemos todos desejando que o comboio fosse de alta velocidade. Todos demos a entender pela evidente falta de entusiasmo e de atenção, que A conversa do Marco já não interessava a ninguém mas ele não notou. Se porventura eu o avisasse talvez ele tivesse respondido «O que o leva a pensar isso? Como pode ter a certeza disso?»
Marco como podem adivinhar não era muito dotado quanto a inteligência emocional porque não distinguia com facilidade as emoções dos outros. Era flagrante a sua incapacidade em indicadores não – verbais de enfado e descontentamento dos outros com a sua conversa. Esta capacidade é importante porque se não soubermos reconhecer o que os outros sentem por nós ou como se sentem na nossa companhia é difícil estabelecer relações significativas com eles. Os políticos, os publicitários e os vendedores de produtos, são um exemplo claro deste tipo de inteligência emocional. Têm a capacidade de rapidamente perceber como os outros irão reagir às suas palavras, de que assuntos devem falar e que temas devem evitar. Não vê nenhum político com ambições de poder, a pôr em causa a Igreja católica ou a aventurar – se em temas como o aborto e a eutanásia, temas sobre os quais a sociedade está muito dividida. Além de saberem reconhecer o que vai agradar ou desagradar aos ouvintes e espectadores também sabem manipular as suas emoções.
Quem não sabe reconhecer as emoções e sentimentos dos outros não está em boas condições para desenvolver empatia, ou seja, de ser capaz de se identificar com outras pessoas, de se colocar no papel dos outros antes de julgá-los, e de trabalhar sempre na solução dos problemas, e não no crescimento das divergências.
E – Habilidades Sociais: Saber regular e gerir as relações com os outros.
Todos conhecemos pessoas que têm um jeito especial para se darem com os outros. Parece fácil fazer com que os outros gostem delas. Normalmente, são indivíduos que conseguem altos níveis de sucesso nas suas carreiras. O que exige saber gerir as relações com os outros e desenvolver ligações gratificantes? Todas as componentes anteriormente referidas são importantes. Em termos mais específicos, o segredo está em ter uma imagem positiva de si, saber reconhecer as consequências das suas acções e decisões respondendo por elas quando algo não corre bem, ter espírito de cooperação, saber compreender os sentimentos e dificuldades dos outros, ser capaz de coordenar os esforços de várias pessoas, de negociar soluções para problemas interpessoais complexos, ser um «bom jogador de equipa», saber conduzir determinado projecto e também saber ser conduzido, «jogar limpo», ir tanto quanto possível até ao fim dos compromissos que estabeleceu, valorizar a franqueza, saber ouvir os outros e não monopolizar a conversa ou o debate como se só valesse a pena ouvi – lo, ter abertura suficiente para, sabendo que é arriscado, falar dos seus sentimentos e compreender os sentimentos e preocupações dos outros e adoptando a sua perspectiva por reconhecer as diferenças no modo como as pessoas se sentem em relação a factos e comportamentos.


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