sexta-feira, 10 de outubro de 2014

FREUD E O MÉTODO PSICANALÍTICO


 O método psicanalítico, encarado do ponto de vista simplesmente terapêutico, é uma terapia que se baseia na ideia de que conhecer e compreender a origem dos problemas que nos afetam, nos liberta, em certa medida, de tensões, ansiedades e padecimentos.
A vida psíquica do ser humano desenrola-se sob o signo do conflito.
Os conflitos e incidentes mais marcantes na nossa evolução psíquica remontam, segundo Freud, à época da infância (primeira infância, sobretudo).
Os conflitos característicos da primeira infância podem ser resolvidos, seguindo-se um desenvolvimento psíquico saudável. Mas, como acontece muitas vezes, podem ser mal resolvidos ou mesmo não resolvidos. Isto significa que são recalcados e reprimidos, afastados para longe da nossa consciência. Que esses conflitos se tornem inconscientes não implica de modo nenhum que sejam desativados ou deixem de existir. Com efeito, não se manifestando diretamente ao nível da consciência, tais conflitos e incidentes traumáticos continuam a afetar o nosso comportamento e a nossa personalidade sem disso termos consciência. Quer isto dizer que se manifestam de forma indireta provocando perturbações psíquicas, desordens no comportamento e sofrimentos físicos. Como esses conflitos e incidentes foram recalcados (tornam-se inconscientes), são, sem que o saibamos, a causa dos nossos atuais padecimentos físicos e psíquicos.
É esta “falha” que a terapia psicanalítica, no sentido tradicional do termo, pretende colmatar. Durante o tratamento psicanalítico, o terapeuta tenta conduzir o paciente à origem, até aí inconsciente, dos seus males, ou seja, tenta trazer os conflitos e traumas inconscientes (recalcados) à consciência.
Freud estava plenamente convicto de que, à medida que o Inconsciente se torna consciente, o doente pode aperceber-se do modo como certos acontecimentos da sua infância determinaram o seu comportamento atual. Relembrar os traumas da infância torna o paciente capaz de resolver conflitos que não pôde resolver no passado. Primeiro, porque se apercebe de que as condições que determinaram esses conflitos já não existem (eram conflitos da infância). Segundo, porque pode, confrontando-se com essas vivências passadas, rever a atitude que tomou a seu respeito e desenvolver comportamentos mais saudáveis.
Segundo Freud, esta “catarse” ou libertação de tensões e ansiedades é possível mediante a consciencialização de um conflito doloroso. Freud observou, nos seus pacientes, que “reviver” um incidente traumático e perturbador produzia uma espécie de alívio emocional. Por outras palavras, esse incidente doloroso perdia muita da força e intensidade que tinha. A sua influência no comportamento da pessoa tornava-se bem menor pelo que uma vida mais saudável era, a partir daí, possível.
A terapia psicanalítica afirma que as perturbações psíquicas e as desordens do comportamento derivam (são sintomas) de conflitos inconscientes.
Os sintomas de tais conflitos não desaparecem por se ocultar ou esquecer as suas causas. Assim, para que as perturbações e desordens (tensões e ansiedades) que nos continuam a fazer sofrer possam ser ultrapassadas é necessário trazer à luz da consciência os conflitos ou incidentes recalcados. Reconhecer a causa profunda, inconsciente até então, dos nossos males é a condição para que possamos viver melhor, menos tensos e ansiosos.

Técnicas e processos do método psicanalítico

Desocultar os traumas psíquicos inconscientes, isto é, trazê-los à luz da consciência para que o paciente lide efetivamente com eles, não é tarefa fácil. Tal dificuldade deve--se ao facto de o Ego ter poderosos mecanismos de defesa que bloqueiam o acesso à consciência dos conteúdos inconscientes. Para desbloqueá-los são necessárias técnicas que “enganem” ou ludibriem a vigilância do Ego. As duas técnicas são a livre associação e a interpretação dos sonhos. Além destas duas técnicas, há dois processos que acompanham a terapia psicanalítica: a resistência e a transferência.
O que entende Freud por livre associação?

A livre associação é um dos princípios fundamentais da terapia psicanalítica. Consiste no facto de o psicanalista pedir ao paciente que fale abertamente, de forma espontânea, dos seus desejos, recordações, pensamentos, fantasias, sonhos, por mais embaraçantes, vulgares, irrelevantes ou mesmo sem sentido que possam parecer. Sem censura e sem interrupção, o paciente deve relatar pensamentos e sentimentos tal como eles ocorrem. Constitui-se assim um puzzle cujas peças o analista, escutando atentamente, vai tentar ligar. No seu entender, o que o paciente relata e descreve, de forma desordenada e conforme lhe vem à mente, é um conjunto de pistas sobre o que se passa no Inconsciente. As livres associações, aparentemente ilógicas, “sem ponta por onde se pegue”, são expressões simbólicas de desejos, recordações e sentimentos recalcados no Inconsciente e que estão na origem dos problemas psicológicos e físicos de que padece a pessoa psicanalisada.
Para tornar mais fácil a livre associação o paciente deve estar à vontade: deita-se num divã ou senta-se numa cadeira confortável enquanto o analista, que fala só quando estritamente necessário, se senta fora do seu campo de visão. O analista intervém para, quando for caso disso, apresentar uma interpretação do que o paciente diz e faz.

Em que consiste a interpretação dos sonhos e qual a sua importância no quadro da terapia psicanalítica?

A descrição de sonhos mediante a técnica da livre associação é um dos elementos da terapêutica  psicanalítica. Freud dá um relevo especial à análise e interpretação dos sonhos. Porquê? Porque a censura, durante o sono, perde grande parte da sua eficácia na repressão das manifestações do Inconsciente. Os sonhos são, segundo Freud, “a estrada real de acesso ao Inconsciente”, porque sendo suas expressões ou manifestações relativamente livres, são o meio mais direto de acesso aos desejos, impulsos e conflitos recalcados do paciente. Não obstante, se a vigilância da censura diminui durante o sono ela permanece. Por isso, os sonhos são formas disfarçadas, muitas vezes complexas e confusas, de conflitos e impulsos inconscientes se revelarem. Há que interpretar, decifrar o seu conteúdo simbólico. Como interpreta Freud os sonhos? Distingue o seu conteúdo manifesto do seu conteúdo latente: o conteúdo manifesto é o conjunto de acontecimentos que ocorrem durante o sonho e de que nos lembramos na manhã seguinte (é aquilo que sonhámos); o conteúdo latente é o significado profundo do sonho (aquilo que ele significa). Descobre-se o significado profundo do sonho — o seu conteúdo latente — considerando os acontecimentos do sonho e os objetos que nele surgem como símbolos que exprimem, em geral, desejos inconscientes (um símbolo é aquilo que faz as vezes de, toma o lugar de).  O que se verifica, a este respeito, na terapia psicanalítica? O paciente descreve o conteúdo manifesto, consciente, do sonho; o psicanalista procura interpretar e decifrar o seu significado escondido, inconsciente, i. e., desocultar o seu conteúdo latente, considerando, para esse efeito, que o que se passa no sonho simboliza ou é a manifestação simbólica de forças, impulsos e desejos que escapam à nossa consciência.

Exemplifiquemos:
Uma paciente relatou um sonho em que comprava num grande hipermercado um magnífico chapéu muito caro e preto. É este o conteúdo manifesto do sonho.
Como descobrir o seu significado? As informações recolhidas ao longo da análise são importantes para a descodificação do sonho, para a revelação do seu conteúdo latente. Assim, o analista sabe que a paciente está casada com um homem doente de idade muito avançada e apaixonada por um homem rico, belo e relativamente jovem.
A interpretação irá considerar cada um dos elementos do sonho como símbolos de desejos inconscientes, recalcados:
– O belo chapéu simboliza uma necessidade de ostentação para seduzir o homem amado.
– O preço custoso simboliza o desejo de riqueza.
– O chapéu negro, chapéu de luto, representa simbolicamente a vontade de se ver livre do marido, obstáculo à satisfação dos seus desejos.
O conteúdo latente do sonho, o seu significado profundo, foi assim revelado: significava um desejo inconfessável (ver o marido morto).
Para Freud, o conteúdo manifesto do sonho inclui muitos símbolos que representam o seu conteúdo latente. Estava convicto de que a maioria dos símbolos no sonho é de natureza erótica porque julgava que a maior parte dos impulsos e desejos reprimidos no Inconsciente tinha a ver com a nossa vida sexual.
A sexualidade encontra no sonho uma representação rica e variada.

Freud interpretava como símbolos do órgão sexual masculino os seguintes objetos: árvores, bastões, chaminés, guarda-chuvas, serpentes, peixes (semelhantes na forma); lâminas, sabres, facas, espingardas, revólveres (têm o poder de penetrar e mesmo de ferir). Os símbolos do órgão genital feminino são objetos que formam uma cavidade na qual algo se pode alojar: cavernas, vasos, caixas, gavetas, cofres – sobretudo cofres com jóias –, bolsos, minas, fornos, etc.
A união ou o ato sexual é simbolizada por movimentos como subir escadas, dançar, cavalgar, deslizar e também por acidentes violentos como sermos esmagados por uma viatura. Outros elementos não propriamente eróticos representavam simbolicamente pessoas e factos: o nascimento era simbolizado pela água; a morte, pela partida ou por uma viagem de caminho-de-ferro; os pais pelo rei e pela rainha; as crianças eram por vezes cruamente representadas por pequenos animais ou vermes.

A determinação do conteúdo latente do sonho não resulta da pura e simples aplicação de esquemas simbólicos que, pretensamente, valham para todos os indivíduos. Como já vimos no exemplo referido, o conhecimento de aspectos da vida do paciente são importantes. Mas o próprio paciente pode ter uma participação mais ativa. É o que se verifica quando o analista lhe sugere que efetue livre associação acerca dos seus sonhos. Trata--se de decompor o sonho nos seus vários componentes e pedir à pessoa psicanalisada para pensar no maior número possível de associações relacionadas com cada componente.
Por exemplo, se um homem sonhou que andava a cavalo, o analista poderia perguntar--lhe que coisas associava a cavalos. Conforme o paciente fosse efetuando associações lembrar-se-ia, porventura, de uma jovem que conhecera em aulas de equitação, pela qual se apaixonara mas que não tinha correspondido ao seu amor. Através do processo de livre associação concluir-se-á que, provavelmente, o sonho era acerca do amor não correspondido por essa jovem e expressava simbolicamente um desejo real: ter relações sexuais com ela.

INFORMAÇÃO HISTÓRICA

Quando em 1885 começou a tratar uma doente chamada Anna O. (cujo nome real era Bertha Pappenheim), Josef Breuer descobriu o seguinte acerca desta doente que sofria de cegueira histérica, paralisia do braço e outros sintomas neuróticos:
a) Quando Anna falava de si mesma, muitas vezes lembrava-se de factos há muito tempo reprimidos.
b) Frequentemente, o confronto consciente com esses factos produzia um alívio dos seus dolorosos sintomas.
A “cura pela palavra” foi desenvolvida por Freud. A técnica da livre associação nasceu em 1892 com uma paciente chamada Elizabeth. Freud sugeriu que, deitada, fechasse os olhos e pensasse num dos sintomas de que sofria, tentando recordar o momento em que dele começou a padecer. Depois de várias tentativas sem resultado, Elizabeth lembrou-se de algo importante mas não relacionado com o sintoma. Surpreendido, Freud perguntou-lhe porque levara tanto tempo a revelar esse facto importante. “Podia ter dito logo mas não pensei que fosse aquilo que você queria’’ – disse Elizabeth. Este episódio conduziu Freud a mudar a forma como conduzia as consultas. A partir de então, decidiu que o paciente devia dar livre curso às suas ideias, falar com o menor controlo possível por parte do psicanalista. Nasceu assim o uso da livre associação.


























O sonho tem um conteúdo manifesto – os acontecimentos de que se lembra quem sonha – e um conteúdo latente ou simbólico – o seu significado subjacente que se trata de interpretar ou descodificar.


Qual o papel da resistência e da transferência na metodologia psicanalítica?
A resistência

Intervindo o menos possível, escutando e anotando o que o paciente descreve acerca da sua vida real e dos seus sonhos, o analista também está atento a súbitas mudanças de assunto, a silêncios inesperados, a reações ríspidas do tipo “Isso não tem importância!” ou “Só estou para aqui a dizer disparates!”. Porquê tal atenção? Porque, segundo Freud, esses comportamentos são o sinal de que o paciente está a aproximar-se da recordação de acontecimentos importantes, potencialmente “perigosos” e que, por isso, mecanismos de defesa tentam mantê-los inconscientes, ocultos.
Freud deu o nome de resistência a esta tendência para evitar o confronto com assuntos “ameaçadores”. A resistência é um conjunto de manobras defensivas em grande parte inconscientes destinadas a manter na penumbra acontecimentos e conflitos perturbadores.
No entender de Freud, a resistência é uma “espada de dois gumes”. Por um lado, opõe--se ao esforço terapêutico, retarda o seu progresso, podendo conduzir a um impasse (muitos pacientes têm grande dificuldade em aceitar as interpretações do psicanalista e abandonam a terapia ou passam a faltar frequentemente e a denotar falta de colaboração); por outro lado, onde há resistência, há agitação emocional que assinala a eventual chegada à consciência de algo até então escondido no Inconsciente (não há fumo sem fogo!).
A tarefa do analista consistirá em tornar compreensível ao paciente o fenómeno da resistência de modo a que participe com empenho na libertação das suas tensões e no esforço de compreensão de si mesmo.

A transferência

A relação do paciente com o analista é outro aspecto importante da terapia psicanalista. O paciente pode, a certa altura, começar a relacionar-se com o terapeuta como se ele fosse um pai excessivamente protetor, uma mãe intolerante e demasiado crítica, um irmão detestável, etc., etc.
Acontece também com frequência que o analista seja objecto de amor e de afecto. Freud considerou sempre que o psicanalista não é o real alvo destes sentimentos. É um alvo substituto. Os pacientes transferem para o analista sentimentos característicos da sua relação com pessoas significativamente importantes (pai, mãe, irmãos, etc.). Tal como a resistência, pode ter consequências positivas e negativas.

UM EXEMPLO DE TERAPIA PSICANALÍTICA: O CASO DO HOMEM DOS RATOS

Um dos casos mais famosos e ilustrativos da terapia psicanalítica é o de um homem de 29 anos que, de acordo com o caso, Freud denominou o Homem dos Ratos. Este paciente consultou Freud devido a vários medos, obsessões e comportamentos compulsivos que se manifestavam há já seis anos e o tinham impedido de completar os estudos universitários e uma carreira profissional. Um dos mais reveladores sintomas consistia numa fantasia obsessiva com uma horrível tortura aplicada ao seu pai e a uma mulher que o Homem dos Ratos cortejava: um grupo de ratos esfomeados agarravam-se às nádegas das vítimas abrindo caminho à dentada através das vias naturalmente disponíveis. Freud utilizou esta fantasia juntamente com outros dados para interpretar os problemas, melhor dizendo, os sintomas do Homem dos Ratos.
Segundo Freud, a causa imediata das perturbações comportamentais do Homem dos Ratos era um conflito sentimental: casar ou não com a mulher que era sua namorada desde os 20 anos. Incapaz de, conscientemente, tomar uma decisão, permitira ao seu Incons- ciente “resolver” o conflito tornando-o demasiado doente (produzindo os seus sintomas neuróticos) para completar os estudos e iniciar uma profissão (que eram pré-requisitos para o casamento). A causa profunda, de acordo com a interpretação freudiana, era um conflito edipiano inconsciente, com origem na primeira infância, traduzido numa relação de amor e ódio em relação ao pai. Estas duas causas estavam ligadas. O conflito do Homem dos Ratos acerca do casamento era uma reencenação, uma reactualização simbólica dos sentimentos de amor e ódio a respeito do pai. Casar com ela seria uma expressão de ódio, não casar seria um ato de amor em relação ao pai.
A conexão entre os dois conflitos fora, no entender de Freud, reforçada pela morte do pai pouco depois de o Homem dos Ratos ter começado a relação sentimental com a mulher em questão. Conhecendo a oposição do pai ao namoro, o Homem dos Ratos inconsciente e irracionalmente acreditou que causara a morte do pai ao manter a relação que este detestava. Contudo, também imaginara inconscientemente e de modo irracional que o seu pai continuava vivo e que poderia matá-lo outra vez se casasse. Entre os vários indícios que conduziram Freud às referidas conclusões destacam-se os seguintes:
• Em dado momento da terapia, Freud pediu ao Homem dos Ratos para associar livremente o conceito “Ratos” (Ratten, em alemão) e imediatamente o paciente pronunciou Raten que em alemão significa “dinheiro” e também “índices” da Bolsa. O Homem dos Ratos tinha previamente mencionado que a namorada tinha pouco dinheiro e que o pai desejava que ele casasse com uma prima rica. Estes factos sugeriram a Freud que a obsessiva fantasia dos ratos se relacionava com a oposição do pai ao namoro.
• Em outro momento da terapia, o Homem dos Ratos descreveu o relato materno de um acontecimento que ocorrera quando ele tinha 4 anos. O pai batera-lhe porque ele mordera a sua ama. O rapaz respondeu com uma violenta descarga de inúmeras palavras agressivas. Tão surpreendente foi esta reação que o pai ficou especado e boquiaberto nunca mais lhe voltando a bater. Para a análise freudiana este incidente possuía grande significado. Segundo Freud, morder a ama era, para o rapaz, um ato de natureza sexual e o castigo físico imposto pelo pai contribuíra para o durável receio que o Homem dos Ratos desenvolveu pela reação do pai aos seus impulsos sexuais. Ao mesmo tempo, o seu aparente poder sobre o pai – a sua raiva fizera com que o pai parasse e deixasse de lhe bater – ajudou a fixar no Inconsciente o temor de que poderia matar o pai zangando-se com ele, contrariando-o. Freud apercebeu-se de ligações simbólicas diretas entre o incidente infantil e a fantasia obsessiva e horrível com os ratos: os ratos, mordendo e destruindo o seu pai e a sua namorada, simbolizavam uma outra criatura pequena e que também mordia – o pequeno rapaz que, outrora, mordera a sua querida ama e, simbolicamente, mediante palavras agressivas, o próprio pai.
• O processo da transferência ocorreu igualmente durante a terapia. O Homem dos Ratos descreveu a Freud uma fantasia em que o analista (Freud) queria que o paciente casasse com a sua filha. No sonho, a filha de Freud surgia sem olhos. Em seu lugar estavam duas manchas cinzentas redondas. Freud interpretou este último elemento como simbolizando dinheiro e a fantasia como reconstrução simbólica do conflito interno do paciente, surgindo o analista no lugar do pai que o pressionava para casar com uma prima rica.
• Em outro momento da terapia – que Freud considerou como o momento decisivo – o Homem dos Ratos saltou do sofá onde estava recostado durante a sessão psicanalítica e começou furiosamente a insultar Freud. Refletindo posteriormente sobre este incidente, o Homem dos Ratos lembrou-se de que a sua súbita fúria era acompanhada pelo medo de que Freud lhe batesse e que saltara para se defender.
A partir deste momento da análise foi fácil convencer o paciente a partilhar a interpretação de Freud: os seus padecimentos atuais tinham a sua raiz naquele incidente de infância quando, fisicamente punido pelo pai, reagiu com tremenda agressividade verbal.
Esta experiência de transferência ajudou o Homem dos Ratos a superar a resistência à ideia de que temia e detestava o pai. A aceitação consciente destes sentimentos conduziu, segundo Freud, à cura dos sintomas neuróticos. Numa sentida nota de rodapé ao caso, Freud acrescentou que o Homem dos Ratos viveu saudável pouco tempo. Morreu pouco depois da cura nas trincheiras da I Guerra Mundial.”

[Peter Gray, Psychology, Worth,2ª edição pp. 660-661]


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