sexta-feira, 10 de outubro de 2014

A TEORIA DE PIAGET SOBRE O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO



LIÇÃO 1 - Princípios gerais da teoria de Piaget

LIÇÃO 2 - Os estádios do desenvolvimento cognitivo
                                                            • O estádio sensório-motor
                                                            • O estádio pré-operatório
                                                            • O estádio das operações concretas
                                                            • O estádio das operações formais

LIÇÃO 1
Princípios gerais da teoria de Piaget

Quando no âmbito da psicologia do desenvolvimento se fala de desenvolvimento cognitivo o primeiro nome que surge é o de Jean Piaget. Interessado pelo estudo da génese e evolução do conhecimento, Piaget elaborou várias metodologias de investigação acerca do modo como nas crianças e nos adolescentes se dá a percepção e a compreensão da realidade. Alcançou várias conclusões importantes em termos epistemológicos constituindo uma teoria sistemática sobre o desenvolvimento cognitivo desde os primeiros tempos de vida até à idade adulta. Destacaremos três:

1 – O desenvolvimento intelectual implica mudanças qualitativas. A criança não é um adulto em miniatura, dotado do mesmo equipamento básico mas com menos aptidões ou com aptidões menos desenvolvidas. Para Piaget há uma diferença qualitativa entre o adulto e a criança quanto ao modo de funcionamento intelectual.

2 – O conhecimento é uma construção ativa do sujeito. O desenvolvimento cognitivo não consiste na recepção passiva da informação proveniente do meio nem na pura e simples atualização de um potencial genético e na aplicação de estruturas e esquemas dados a priori. O construtivismo de Piaget supera quer o empirismo quer o inatismo. Exceptuando alguns esquemas reflexos simples o que há de inato em nós? A necessidade de conhecer, ou seja, de adaptação ao meio. Conhecer é construir estruturas que possibilitem tal adaptação. Como se formam essas estruturas? Mediante a atividade do sujeito no confronto com o meio. Construtivismo significa assim que, tendo em conta o processo de maturação, construímos a nossa compreensão da realidade.

3 – O desenvolvimento cognitivo é descontínuo, qualitativamente diferenciado, processando-se ao longo de momentos distintos denominados estádios.
Segundo Piaget, pensamos e raciocinamos de forma qualitativamente diferente em diferentes fases do desenvolvimento intelectual. Todos percorremos uma sequência estruturalmente invariante de quatro períodos qualitativamente distintos, ou seja, não podemos saltar estádios nem passar por eles numa ordem diferente. Não obstante, pode variar a idade em que atingimos cada estádio.
A organização do desenvolvimento segundo estádios significa que a ordem da progressão não varia e que todos os seres humanos seguem uma previsível série de transformações.

1. Factores gerais do desenvolvimento cognitivo

“Primeiro factor: a hereditariedade, a maturação interna. Este factor deve, com certeza, ser considerado sob todos os pontos de vista, mas é insignificante, porque não atua isolado.
Segundo factor: a experiência física, a ação sobre os objetos. Constitui também um factor essencial, que não se trata de subvalorizar, mas que por si só é insuficiente. A lógica da criança, em especial, não advém da experiência dos objetos, mas sim das ações exercidas sobre os objetos, o que não é de maneira nenhuma a mesma coisa, isto é, a parte ativa do indivíduo é fundamental, não bastando a experiência extraída do objecto.
Terceiro factor: a transmissão social, o factor educação no sentido lato. Factor determinante, sem dúvida, no desenvolvimento, mas só por si insuficiente, pela seguinte razão evidente: para que uma transmissão seja possível entre o adulto e a criança, ou entre o meio social e a criança educada, é necessário que haja, por parte da criança, assimilação do que se pretende inculcar-lhe de fora. Ora, esta assimilação é sempre condicionada pelas leis deste desenvolvimento parcialmente espontâneo.
Quero falar de um quarto factor a que chamamos equilibração. […] É que uma descoberta, uma noção nova, uma afirmação, etc., deve equilibrar-se com as outras. É necessário todo um jogo de regulações e de compensações para chegar a uma coerência. Emprego a palavra “equilíbrio” não num sentido estático, mas no sentido de uma equilibração progressiva, sendo a equilibração a compensação por reação do indivíduo às perturbações exteriores, compensação que conduz à reversibilidade operatória no final deste desenvolvimento”.

Piaget, Problemas de Psicologia Genética

O desenvolvimento cognitivo, processando-se através de estádios cuja ordem de sucessão é invariante e cujas aquisições são progressivamente mais complexas (incorporando enquanto transformadas as aquisições prévias), é influenciado pela ação combinada dos factores indicados por Piaget.
Os factores condicionantes do desenvolvimento cognitivo são:
1. A hereditariedade e a maturação física — Piaget refere-se a mudanças biologicamente determinadas no desenvolvimento físico e neurológico que ocorrem de forma relativamente independente em relação às experiências.
2. A experiência – Por ela entende Piaget, não o simples registo passivo dos dados da experiência mas sim a atividade do sujeito sobre os objetos – física e mental – que permite distingui-los e organizá-los. Através dessa atividade dá-se a formação de estruturas ou de esquemas que possibilitem a ação e a compreensão da realidade.
3. A transmissão social – Piaget refere-se ao processo através do qual somos influenciados não pela nossa atividade própria mas pelo contexto social, pela observação dos outros e pela educação.
4. A equilibração – Cada novo estádio define-se pelo surgimento de novos esquemas e estruturas ou de estruturas e esquemas mais complexos. A equilibração – conceito a explicitar no próximo ponto – assegura formas de equilíbrio cada vez mais estáveis na adaptação ao meio.
Para Piaget o desenvolvimento cognitivo implica que a atividade do sujeito na interação com o meio responda aos desequilíbrios cognitivos procurando atingir um estado de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, mecanismos de adaptação ao meio. É o que tentaremos explicar.

2. Como se processa o desenvolvimento cognitivo? Os instrumentos e os processos fundamentais.

Piaget, influenciado pela sua formação em Biologia, via o desenvolvimento cognitivo à imagem dos processos biológicos. A necessidade de conhecer é um impulso inato, uma manifestação particular da necessidade de sobrevivência. Como só sobrevivemos adaptando-nos ao meio, o desenvolvimento cognitivo é uma forma de adaptação ao meio. A adaptação cognitiva ao meio implica mudanças estruturais e funcionais que aumentem as probabilidades de sobrevivência do organismo individual. Para compreender esse processo adaptativo é necessário compreender três conceitos fundamentais da teoria de Piaget: os conceitos de esquema, de assimilação e de acomodação.

O que são esquemas?

Quando nascemos nada sabemos acerca das pessoas e dos objetos do mundo a que teremos de nos adaptar nem das relações que se estabelecem entre as pessoas e as coisas.
Contudo, começamos a adquirir conhecimentos de forma progressiva, por mais elementares que eles sejam no início. A nossa atividade reflexa assinala o despontar da adaptação cognitiva. Esta processa-se, nas primeiras semanas de vida, mediante esquemas baseados em reflexos inatos como chuchar, agarrar, etc.
Os esquemas são padrões de comportamento e de pensamento que organizam a nossa interação com o meio. São padrões de ação e estruturas mentais que, organizando a nossa experiência, estão envolvidas na aquisição de conhecimentos.
Durante os primeiros meses de vida os esquemas baseiam-se em ações. Os objetos são agrupados conforme as ações que as crianças realizam. Assim, chupando e agarrando, as crianças criam categorias de objetos que podem ser chupados e agarrados. Estes esquemas baseados em outros esquemas – chupar e agarrar – são a forma de as crianças “marcarem mentalmente os objetos com os quais se relacionaram”.
‘‘Os primeiros esquemas estão imediatamente ligados a ações que ‘aqui e agora’ a criança realiza. Assim, um bebé pode ter um esquema – o de sucção – na maior parte dos casos aplicado a mamilos; o esquema ‘agarrar e abanar’ aplicado à manipulação de rocas e o esquema ‘sorriso’ aplicável a rostos humanos. À medida que a criança cresce e se dá o desenvolvimento intelectual, novos e mais sofisticados esquemas surgem cada vez menos ligados a objetos que estejam presentes no meio imediatamente envolvente e a ações atuais.
A partir de um determinado estádio do desenvolvimento os esquemas constituem-se baseando-se mais em relações funcionais e conceptuais do que em ações. Assim, as crianças em idade pré-escolar aprendem que garfos, facas e colheres formam um esquema ou categoria funcional denominado ‘coisas que uso para comer’. Ou aprendem que gatos e cães constituem uma categoria mental ou esquema denominado ‘animais domésticos’.
Tal como as crianças em idade pré-escolar, outras crianças e adolescentes usam esquemas baseados em relações funcionais e conceptuais. Os adolescentes constroem também esquemas baseados em propriedades abstractas. Por exemplo um adolescente constituirá o esquema ou categoria mental ‘ideologias que desprezo’ aí integrando o fascismo, o nazismo, o racismo e o sexismo.’’

[Peter Gray, Psychology, Worth, 2.a edição, p. 433]

Assimilação e acomodação

Os esquemas mudam constantemente ou consolidando-se ou transformando-se noutros mais complexos, adaptando o sujeito à sua crescente e cada vez mais diversificada interação com o meio.
Segundo Piaget a adaptação cognitiva ao meio implica a intervenção combinada de dois processos: a assimilação e a acomodação.
A assimilação é o processo que integra ou incorpora novas informações e experiências em esquemas já existentes.
A assimilação verifica-se quando usamos esquemas existentes para dar sentido aos novos acontecimentos e experiências. Mediante a assimilação respondemos a uma nova situação de modo semelhante ao que adoptamos numa situação familiar, sem necessidade de modificar os esquemas existentes. Há assimilação quando um novo objecto ou situação suscita uma atividade que já faz parte do nosso reportório. Por exemplo, os bebés usam o esquema da sucção não só para se alimentarem como também para chuchar no dedo. A criança que aprendeu a segurar num garfo demonstra assimilação ao segurar numa colher. O esquema do agarrar funciona não só com bonecos mas também com blocos de lego e diversos objetos de pequena dimensão.
Quando temos de alterar os esquemas existentes para responder a uma nova situação dá-se a acomodação. A acomodação é o processo de ajustamento dos esquemas existentes (ou de criação de novos) quando as novas informações e experiências não podem ser assimiladas.
Se os dados não podem ser incorporados nos esquemas existentes é necessário o desenvolvimento de esquemas ou estruturas mais apropriadas.
Por exemplo, a criança que aprendeu a agarrar diversos objetos de pequena dimensão com uma mão bem cedo se apercebe de que outros objetos só podem ser agarrados e erguidos com duas mãos e que muitos outros não podem ser levantados; qualquer progenitor atento sabe que as primeiras vezes que se dá de comer a uma criança com uma colher são uma experiência desconcertante para aquela: a criança tenta absorver o conteúdo da colher utilizando um esquema (o da sucção) até aí bem-sucedido. Os efeitos são bem conhecidos. Contudo, em breve a criança aprenderá a adaptar a boca e a língua ao novo meio de alimentação. Realiza então uma alteração do esquema que possuía para conseguir responder a uma nova situação; aprender uma língua estrangeira é igualmente uma boa ilustração do que se entende por acomodação.
Piaget afirmou que não existe assimilação sem acomodação. Queria dizer que mesmo quando assimilamos tal atividade exige um mínimo de acomodação. Um esquema como o da sucção utilizado para tirar leite de um biberão pode ter de sofrer ligeiras alterações quando se muda de tetina e esta tem um tamanho diferente e um outro formato.
Em suma, adaptamo-nos a diversas e cada vez mais complexas situações usando os esquemas existentes sempre que estes se revelam funcionais e dão sentido aos novos dados (assimilação) e modificando os esquemas utilizados sempre que a resposta às situações o exigir (acomodação).

A equilibração e o desenvolvimento cognitivo

O desenvolvimento cognitivo tem como fundamento o desejo natural de assegurar um estado de equilíbrio interno face a um meio em constante transformação. A procura ou tentativa de obter esse estado de equilíbrio denomina-se equilibração. Que equilíbrio se procura? O equilíbrio relativamente estável entre acomodação e assimilação.
Mas a procura do equilíbrio não é sinónimo de estagnação: ela é o motor do desenvolvimento cognitivo porque conduz a níveis superiores de adaptação. O desequilíbrio cognitivo é uma espécie de conflito interno que motiva o sujeito para a aquisição de novas competências e conhecimentos, de novos esquemas e estruturas cognitivas.
‘‘Periodicamente, o equilíbrio entre assimilação e acomodação é perturbado, daí resultando um estado de desequilíbrio. Há consciência desse desequilíbrio quando nos apercebemos de que os nossos atuais esquemas já não são adequados porque passamos muito mais tempo a acomodar do que a assimilar. Quando o desequilíbrio ocorre, o sujeito que procura dar sentido às suas experiências reorganiza os seus esquemas, melhor dizendo, cria novos esquemas que lhe permitam responder às novas situações e aos novos desafios da realidade a que deve adaptar-se. Procura assim um novo estado de equilíbrio. A este processo deu Piaget o nome de equilibração. Para restaurar o equilíbrio, os esquemas anteriormente utilizados e agora desadequados são substituídos por esquemas qualitativamente diferentes, mais avançados e eficazes na adaptação ao meio.
Uma forma de compreender o processo de equilibração consistirá em adoptar a metáfora da criança como cientista, algo que Piaget também faz. Os esquemas ou teorias que as crianças constroem permitem-lhes compreender diversas experiências recorrendo, por exemplo, à predição do que acontecerá (‘São sete e meia da manhã, está quase na hora do pequeno-almoço’) ou de quem fará algo. Neste caso, imaginemos que a criança interpreta certos acontecimentos usando este esquema ‘A mãe foi para o emprego, logo é o pai que me vai levar à escola’. Esse esquema (ou teoria) terá de ser modificado e substituído quando a previsão for desmentida por uma nova situação. ‘O pai pensa que já tenho idade suficiente para ir sozinho para a escola, por isso não me vai levar’ será o novo esquema.
Vários cientistas ao longo da história consideraram que determinadas teorias continham várias anomalias, isto é, não encontravam a partir de um dado momento correspondência com os factos. Estes não se deixavam assimilar por tais esquemas teóricos e as revisões e modificações efectuadas, revelavam-se insuficientes para dar sentido a novos factos e descobertas que os punham em causa. Por exemplo, quando Copérnico se apercebeu de que o modelo geocêntrico (a Terra como centro do universo e das órbitas planetárias) era um esquema manifestamente desadequado para compreender os fenómenos naturais, reteve o conceito de objecto central ou de centro, mas apresentou como hipótese explicativa a ideia de que o Sol era o centro e não a Terra (heliocentrismo). Foi uma mudança fundamental na teoria astronómica até então vigente. De tal modo que não é uma simples alteração ou aperfeiçoamento (acomodação) do anterior modelo mas um modelo novo, um novo esquema interpretativo. Uma revolução é o termo apropriado. De modo análogo, as crianças, periodicamente, atingem um ponto em que os seus esquemas já não funcionam adequadamente na resolução de um problema ou na compreensão de uma situação. Torna-se então necessário construir novos esquemas – baseados em esquemas anteriores – que sejam mais adaptativos na relação com o mundo físico e social. Obtém-se assim um novo equilíbrio entre assimilação e acomodação, equilíbrio instável, porque novos desequilíbrios ou conflitos cognitivos irão surgir, exigindo outros níveis de adaptação.’’

Robert V. Kail, Children and Their Development, Prentice-Hall, pp 143-144

Piaget dividiu o desenvolvimento cognitivo em quatro grandes estádios, caracterizados por níveis de adaptação qualitativamente distintos que são possíveis devido ao progressivo surgimento de novos esquemas, construídos a partir das experiências do sujeito em estádios precedentes.
Os quatro estádios do desenvolvimento serão o tema seguinte.


LIÇÃO 2
Os estádios do desenvolvimento cognitivo

No seu estudo do processo de adaptação em que o desenvolvimento intelectual consiste, Piaget distinguiu períodos qualitativamente diferentes a que chamou estádios.
São quatro os estádios do desenvolvimento cognitivo ou intelectual:
1. Estádio da inteligência sensório-motora (do nascimento aos 2 anos)
2. Estádio da inteligência pré-operatória (dos 2 anos aos 7 anos)
3. Estádio das operações concretas (dos 7 aos 11 anos)
4. Estádio das operações formais ou abstractas (dos 11 anos em diante)

As idades são aproximativas porque pode haver diferença quanto à altura em que cada criança muda de um estádio para o outro. Contudo, as diferenças cronológicas não significam que não haja uma sequência ordenada e constante. Se aos 20 meses se pode estar no estádio pré-operatório, a ordem de sucessão é igual para todos os indivíduos (1, 2, 3 e 4).

1. O estádio sensório-motor

Eis como Piaget caracteriza o estádio sensório-motor:
‘‘Este estádio vai do nascimento à aquisição da linguagem. Inicia-se com os reflexos ou montagens hereditárias. O bebé evolui aprendendo a coordenar as ações e os movimentos. O seu primeiro modelo de ‘conhecer’ é levar os objetos à boca. O bebé assimila uma parte do seu universo à sucção. Para ele, o mundo é essencialmente uma realidade a chuchar. A verdade é que, rapidamente, o mesmo universo se tornará também uma realidade a olhar, a escutar e, quando movimentos próprios lho permitirem, a sacudir.
Há uma inteligência antes da linguagem, mas não há raciocínio antes da linguagem. Vamos distinguir, relativamente a este caso, a inteligência do raciocínio. A inteligência é a solução de um problema novo para o indivíduo, é a coordenação dos meios para atingir um determinado fim que não é acessível de um modo imediato; ao passo que o raciocínio é a inteligência interiorizada, não se apoiando já na ação direta, mas num simbolismo, na evolução simbólica, por meio da linguagem, das imagens mentais, etc., que permitem representar o que a inteligência sensório-motora, pelo contrário, vai apreender diretamente.’’

Piaget, Seis Estudos de Psicologia, Dom Quixote, Lisboa. p. 91

O primeiro estádio do desenvolvimento cognitivo é assim denominado porque a inteligência da criança desenvolve-se através de ações motoras e de atividades perceptivas (baseadas nos sentidos) que captam impressões sensoriais. Piaget considerava que este período, em que ocorre um extraordinário desenvolvimento intelectual, “era decisivo para todo o seguimento da evolução psíquica”.
O estádio sensório-motor é o período em que a inteligência é totalmente prática.
O desenvolvimento cognitivo inicia-se com esquemas de ação reflexa, tais como agarrar e chuchar. Dotados de flexibilidade estes esquemas rapidamente sofrem modificações e ajustamentos (acomodação) em resposta às diversas experiências. Progressiva- mente, a criança constrói o seu reportório de atividades, isto é, os esquemas tornam-se menos reflexos. Assim, a criança acomoda a sua boca de modo diferente conforme os objetos: levar a ponta do lençol à boca não é um ato idêntico a chuchar no dedo. Estas actividades simples assinalam o começo do reconhecimento dos objetos do mundo.
Do primeiro ao quarto mês, as actividades da criança centram-se essencialmente no seu próprio corpo. Por exemplo, agitar os braços é algo que por si só cativa a atenção da criança, tal como a descoberta de que o polegar é chuchável.
Do 4.° ao 8.° mês, desenvolve-se a coordenação entre as actividades perceptiva e motora. Já consegue agarrar um objecto que avistou e está ao seu alcance. O mundo dos objetos externos que constituem o seu ambiente imediato desperta o interesse da criança e é ocasião de novas actividades já não centradas no seu corpo. Contudo, os novos comportamentos são acidentais, não são produzidos deliberadamente, ou seja, a criança ainda não escolhe intencionalmente usar um esquema como meio para atingir um fim. Por acaso, descobre que agitar um objecto faz barulho.
Dos 8 aos 12 meses, aperfeiçoa-se a coordenação motora (a conexão entre os esquemas motores). A acidental ocorrência de novos comportamentos dá lugar às primeiras formas de comportamento intencional, despontando a originalidade no confronto com obstáculos. Assim, se os pais colocarem um boneco em frente da criança esta moverá a mão para o agarrar e brincar com ele. O esquema “mover a mão” é um meio para atingir o objecto, “agarrar o boneco”; “abrir a boca” um meio para obter comida (o que nem sempre resulta) e chorar uma forma de chamar a atenção. Em vez de um simples prolongamento de actividades interessantes, assistimos agora a um uso intencional dos esquemas para atingir um objectivo. Mediante uma assimilação generalizada um comportamento aprendido numa determinada circunstância é utilizado numa nova situação, diferente mas suficientemente semelhante para que o comportamento aprendido seja apropriado aos interesses da criança (imaginemos que puxar uma toalha se revelou um bom meio de alcançar um brinquedo que estava em cima da mesa trazendo-o para o chão. Esse comportamento poderá ser utilizado para alcançar um pedaço de pão que está na mesa de jantar… juntamente com pratos, copos e talheres).
Dos 12 aos 18 meses, desponta o comportamento de tipo experimental.
Previamente, no estádio anterior, a criança era capaz de combinar esquemas intencionalmente (“abrir a boca” e “apontar” para um alimento) mas somente conseguia combinar um par de cada vez e unicamente quando ocorria uma situação propícia ao uso dessa combinação. Agora e como resultado do desenvolvimento da capacidade de coordenação dos esquemas, já não se trata de repetição de antigos esquemas com novos objetos. Se uma ação produz o resultado desejado, não será simplesmente repetida mas modificada de modo a verificar que outros efeitos dela podem resultar. Assim, a criança pode querer verificar que tipo de sons resultam do facto de agitar, deixar cair e bater com diferentes objetos (é a aprendizagem por ensaio e erro, fazer para ver o que acontece – a criança ainda não possui estruturas cognitivas que tornem possível a previsão ou antecipação dos resultados de uma ação: tem de experimentar). Com a planificação que minimamente é necessária a estes comportamentos experimentais é também exigida uma crescente aptidão para representar objetos e situações.
Dos 18 aos 24 meses entra-se numa frase de transição. Podemos dizer que termina o estádio sensório-motor e se inicia o estádio pré-operatório ou do pensamento representativo.
Que acontecimento marca o fim do estádio sensório-motor? A aquisição (ou melhor, desenvolvimento completo) da noção de permanência do objecto (também designada “objecto permanente”).
Até aos 8 meses aproximadamente, a criança não tem a noção de que um objecto continue a existir independentemente da sua ação e da sua percepção. Fora de vista significa literalmente, segundo Piaget, fora da existência. Quando um brinquedo desaparece do campo de visão da criança é como se tivesse deixado de existir. Quando reaparece é como se tivesse sido recriado. O conceito de permanência do objecto – a crença na existência independente e estável de um mundo de objetos e pessoas – é lentamente construído a partir dos 8 meses como resultado da crescente interação motora, perceptiva e sensorial da criança com o meio (e também devido à maturação do sistema nervoso). Por volta dos 18 meses, estará plenamente adquirida a convicção de que fora do alcance da visão não significa fora da existência nem fora do pensamento. Por isso mesmo, nesta fase, as crianças lembram-se do que, por exemplo, deixaram numa visita a casa da avó e serão capazes de antecipar mentalmente os resultados de uma ação sem recorrer à experimentação ou manipulação material dos objetos.

Qual o significado desta aquisição? O que está nela implícito? O nascimento da capacidade de representação simbólica que torna possível pensar e falar de objetos que estão fora do campo da sua percepção imediata. Assinalando os limites funcionais dos esquemas sensório-motores e, por isso, o fim do estádio da inteligência prática (anterior à linguagem e ao pensamento) a capacidade de representação simbólica permite formar imagens mentais de objetos e ações quando aqueles não estão presentes e estas não ocorrem efetivamente. Assim pessoas e acontecimentos que a criança presenciou serão imitados posteriormente. Piaget denominou imitação diferida este comportamento. Assim, não só representa por meio de símbolos (palavras, gestos) os objetos como também as actividades associadas a esses objetos.
A capacidade de simbolização é um “acontecimento notável” porque com ela surgem e desenvolver-se-ão o pensamento e a linguagem (a criança aprende a usar palavras e expressões quando são apropriadas e não só quando as ouve serem proferidas). Além disso possibilitando a ultrapassagem do egocentrismo sensório-motor, isto é, a crença ilusória de que a existência dos objetos depende das ações do sujeito, abre o caminho à formação de um autoconceito: a criança apercebe-se de que a existência estável, relativamente permanente, não é simples atributo dos objetos e das outras pessoas mas também seu.

O estádio sensório--motor é, enquanto tal, o estádio da inteligência prática anterior ao pensamento e à linguagem.

Antes dos oito meses de idade as crianças não têm a noção de permanência do objecto, ou seja, não têm a noção de que os objetos continuam a existir mesmo que deixem de ser vistos ou ouvidos. Para esta criança o macaco azul--turquesa desaparecendo do seu campo de visão, deixou de existir. Só por volta dos 2 anos as crianças consolidam o que foram progressivamente adquirindo a partir dos oito meses (a noção de permanência do objecto) e se tornam capazes de representar mentalmente objetos. Esta aquisição marca o fim do período sensório-motor e o início do estádio pré-operatório.











O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
Estádio sensório-motor ou da inteligência sensório-motora

Estádio em que a inteligência se adapta ao meio essencialmente através de esquemas sensório-motores (atividade perceptiva e atos motores). É o estádio da inteligência prática, anterior ao pensamento ou raciocínio.

CARACTERÍSTICAS
Ao longo de seis subestádios a criança progride de simples atos reflexos para comportamentos sensório-motores mais complexos.
No início, as respostas do bebé são essencialmente reflexas, automáticas. A criança repete ações não aprendidas em virtude do resultado satisfatório que as acompanha. É uma relativa evolução porque já não se trata de um mecanismo puramente reflexo.
O nível seguinte da evolução da inteligência prática consistirá em repetir ações aprendidas. Repetem-se ações com objetos explorando as suas propriedades, como o som e a dureza. Surgem os primeiros indícios de comportamento intencional (utilizar uma ação como meio para um fim).
Progressivamente, o comportamento torna-se menos repetitivo. Entre os 12 e os 18 meses surge o comportamento experimental: adaptação do comportamento a situações específicas de forma intencional e mediante o método do “ensaio e erro”.
Há, portanto, uma inteligência anterior ao pensamento e à linguagem: a inteligência prática, baseada nas consequências das ações.
A grande aquisição do estádio sensório-motor é o conceito de objeto permanente ou de permanência do objeto, sinal da emergência da capacidade de representação simbólica. Com tal aquisição termina o estádio sensório-motor, a inteligência prática dá lugar à inteligência representativa (interiorização simbólica das ações, isto é, capacidade de resolver mentalmente problemas e de usar a linguagem) iniciando-se o estádio pré-operatório










































2. O estádio pré-operatório

A capacidade de representação simbólica, dita função simbólica ou semiótica, assinala o termo do estádio sensório-motor e o começo do estádio pré-operatório. Este “acontecimento notável” marca o início do pensamento. A criança (aproximadamente aos 2 anos) começa a desenvolver a capacidade de representar mentalmente objetos ausentes. Não se limita a agir sobre os objetos (como antes) mas representa-os, isto é, substitui-os por símbolos que valem por esses objetos e assim pode pensar sobre eles, desenhá-los, etc. Da inteligência prática passamos à inteligência representativa ou pensamento.
Piaget considera que o estádio pré-operatório é constituído por 2 períodos distintos:
1 – A fase do pensamento pré-conceptual, centrado na imaginação e por ela dominado (dura dos 2 aos 4 anos).
2 – A fase do pensamento intuitivo, centrado na percepção dos dados sensoriais e a ela submetido (prolonga-se dos 4 aos 7 anos).
A característica geral do pensamento pré-operatório e a razão de ser das suas limitações é a centração ou egocentrismo (centração em si mesmo). A centração ou egocentrismo pode ser entendida de dois modos:
a) o sujeito é incapaz de compreender que há várias perspectivas acerca da realidade e dos objetos considerando somente o seu ponto de vista.
b) o sujeito concentra-se em um aspecto de um problema ou de uma situação ignorando outros aspectos igualmente relevantes.
Ao longo deste estádio o pensamento egocêntrico vai-se atenuando mas não o suficiente para que dê lugar ao pensamento lógico ou dotado de reversibilidade. Sinónimo de unilateralidade, o pensamento egocêntrico limita a capacidade de raciocínio da criança, a sua compreensão da realidade e a comunicação com os outros. Vejamos quais as suas manifestações ou efeitos nos dois subestádios referidos.

O pensamento pré-conceptual

Nesta fase as crianças parecem pouco preocupadas com a realidade (os seus desenhos monstram-nos o sol com cor azul, céus amarelos, carros flutuando nas nuvens), sendo o seu mundo bastante imaginativo. O pensamento é dominado pela imaginação, isto é, a relação da criança com a realidade centra-se na sua imaginação. Egocêntrica, a criança tudo explica por referência à sua imaginação, desejos e fantasias. Esta omnipresença da imaginação fantasiada permite compreender que o pensamento pré-conceptual – cujos esquemas, desprovidos de generalidade, são mais imagens mentais do que conceitos – seja essencialmente um pensamento mágico, que transforma o imaginário em realidade.
O egocentrismo da fase pré-conceptual ou mágica significa que há uma incapacidade em distinguir claramente acontecimentos psicológicos de acontecimentos físicos ou externos, o que traduz uma significativa indiferenciação entre o sujeito – as suas representações – e a realidade exterior. Várias características mentais resultam do predomínio do pensamento mágico:
a) O animismo – tendência para atribuir aos objetos físicos e aos fenómenos naturais qualidades psicológicas (sentimentos, vontade, pensamentos e emoções).
O animismo exprime-se em frases como “O Sol está a deitar-se porque está com sono” e “A minha boneca está doente” e na ideia de que as estrelas que se veem no céu à noite iluminam-no para o Sol dormir sem medo da escuridão.
b) O realismo – tendência para atribuir a realidades psicológicas (desejos, medos, fantasias), uma existência física. Assim, a fada madrinha, o Lobo Mau e o Pai Natal não são ficções.
c) O artificialismo – tendência para acreditar que os objetos físicos e acontecimentos naturais são produzidos por pessoas: “O céu foi pintado por um grande artista.”
d) O finalismo – tendência para acreditar que nada acontece por acidente e, sobretudo, que tudo tem uma justificação finalista, isto é, existe em função do fim que cumpre. Assim, as nuvens movimentam-se para encobrirem o Sol, este existe para que não vivamos sempre de noite, as educadoras do infantário estão lá de manhã, vivem lá, esperando por mim todos os dias da semana. É típico da criança nesta fase pensar que as pessoas e os objetos existem em função de si.

No plano das relações interpessoais o egocentrismo – modo de funcionamento mental pelo qual todos passamos – tem efeitos relativamente desconcertantes:
• a criança é incapaz de ver e compreender as coisas admitindo que são possíveis diferentes pontos de vista.
Não compreende que os outros tenham diferentes ideias e sentimentos – julga que o seu ponto de vista é o único possível.
A criança que ao telefone abana a cabeça para dar a entender à avó que foi ao jardim zoológico manifesta egocentrismo tal como a criança que sentada em frente ao televisor, impedindo um bom visionamento aos pais, julga que não há problema algum porque consegue ver o programa televisivo perfeitamente bem.
• Centradas em si mesmas, as crianças, enquanto brincam umas com as outras, comunicam mais consigo próprias do que entre si, sobrepondo-se o monólogo colectivo ao diálogo.

O pensamento intuitivo

Neste período do estádio pré-operatório há uma redução do egocentrismo porque o pensamento já não é dominado pela imaginação mas sim pela perceção. Contudo, a centração ou o egocentrismo continuam a condicionar o funcionamento intelectual. Dessa continuidade há várias evidências:
a) O raciocínio pré-causal – Traduz a dificuldade de entendimento das relações causa-efeito. Por exemplo, uma criança pode pensar que um túmulo é a causa da morte porque as pessoas mortas estão lá enterradas; outra poderá pensar que estando frio em casa e havendo lá aranhas são estas a causa do frio.
b) Dificuldade em distinguir uma classe de objetos de um único objecto. Confunde o todo com uma das suas partes, o geral com o particular, identificando todos com alguns. Prevalece o raciocínio transdutivo. Mais uma vez, fazem-se sentir os efeitos da centração. Com efeito, a criança baseia a maioria das suas inferências num acontecimento particular ou num simples atributo de um objecto. Assim, poderá concluir que por todos terem volantes, camiões, autocarros  e automóveis são objetos idênticos. Dada a imprecisão da generalização, o raciocínio não é indutivo mas transdutivo, isto é, não abandona o plano do particular, não atinge o conceito geral (“meio de transporte rodoviário”). Uma criança consegue no jardim zoológico identificar e nomear um elefante dado que reconhece características como a enorme dimensão, a tromba, as grandes orelhas e a cor cinzenta da pele. Contudo, se mais tarde vir um elefante no circo julgará que é o mesmo animal. Pensa que se trata sempre do mesmo animal e não de dois animais da mesma espécie.
  Piaget afirmava que antes dos 7 anos a classificação de objetos em termos de múltiplos aspectos (forma e cor, por exemplo) e a compreensão das relações entre classes ultrapassavam a competência das crianças. Noutros termos, o pensamento pré--conceptual somente será superado quando surgir o pensamento lógico.
c) O pensamento pré-operatório é caracterizado pela irreversibilidade, isto, é, pela incapacidade de mentalmente inverter uma sequência de factos e de operações regressando ao ponto de partida. Por isso, há dificuldades evidentes em compreender conceitos como a conservação da quantidade, do volume ou do número.

Imaginemos a seguinte situação: mostramos a uma criança de 6 anos dois copos idênticos e com a mesma quantidade de líquido, algo que a criança obviamente sabe. Vertamos o líquido de um dos copos para um terceiro copo diferente, alto e estreito. Perguntemos à criança qual dos copos tem maior quantidade de líquido. A resposta será: o copo alto e estreito.

Por que razão comete a criança este erro? Porque ainda não faz parte das suas estruturas cognitivas o esquema da conservação. O facto de este não estar desenvolvido implica que a criança não possui a noção de que as mudanças de forma ou de aparência não são mudanças quantitativas. Em termos gerais, a ausência da noção de conservação significa incapacidade de reconhecer que certas propriedades das coisas permanecem constantes apesar da mudança na forma ou na aparência.
Esta limitação do pensamento pré-operatório (apesar de algumas tarefas respeitantes à conservação serem resolvidas entre os 6 e os 7 anos) deriva, mais uma vez, da tendência para a centração. Com efeito, a criança do nosso exemplo centra a sua atenção num aspecto do problema – a altura do copo, ou seja, o nível da água – ignorando completamente outros aspectos igualmente relevantes. Apesar de já ter uma compreensão básica do conceito de identidade que será desenvolvida no estádio seguinte, ela não se apercebe de que uma alteração em dado aspecto pode ser compensada por uma mudança quanto a outro aspecto. O que realmente acontece no exemplo apresentado é que uma alteração quanto à altura (aumenta) do recipiente foi compensada por uma outra, a diminuição do diâmetro. A criança notaria que não houve aumento da quantidade de líquido se fizesse regressar este ao recipiente original (um dos copos baixos e largos), isto é, se invertesse a operação efectuada. Contudo, o seu pensamento é marcado pela irreversibilidade, pela incapacidade de mentalmente inverter uma sequência de factos ou de operações regressando ao ponto de partida.
Os erros que a criança comete devem-se ao facto de, por enquanto, a intuição ou o pensamento intuitivo ser o único instrumento de compreensão da realidade. O pensamento intuitivo é dominado pelas pretensas evidências dos sentidos, depende excessivamente da percepção (é elucidativo o exemplo que demos acerca do problema da conservação).
No estádio pré-operatório não se consegue perceber que há transformações reversíveis. O sujeito centra-se no estado final ou no estado inicial de uma transformação, representa o real de forma fragmentária, não entende que há uma continuidade nas diferenças de estados. Não possui ainda pensamento reversível, isto é, ações interiorizadas reversíveis. Contudo, os sucessivos desmentidos que a realidade inflige à sua confiança na percepção reduzem progressivamente o poder das aparências.





O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

Estádio pré - operatório ou da inteligência pré – lógica

Estádio em que a inteligência se adapta ao meio envolvente através de esquemas sensório-motores (atividade percetiva e atos motores). É o estádio da inteligência prática. É marcado pelo surgimento e crescente uso da função simbólica ou semiótica e do pensamento. O pensamento é um conjunto de ações interiorizadas que representam a realidade de forma superficial ou pré-lógica.


CARACTERÍSTICAS
Estádio em que não apenas se age (como antes) mas se representa a realidade mediante o pensamento e a linguagem, o estádio pré-operatório (pré-lógico) divide-se em duas etapas:
1 – O pensamento pré-conceptual, cujo conteúdo são imagens mentais e não conceitos. Nesta fase — dos dois aos quatro anos — o pensamento é dominado pela imaginação e pela fantasia.
2 – O pensamento intuitivo, centrado na percepção e não na imaginação – logo menos egocêntrico – mas pouco flexível, preso aos acontecimentos particulares, às impressões sensíveis. Impõe-se dos 4 aos 7 anos.
Mais importante do que esta divisão é a compreensão de que, neste estádio, o pensamento é dominado por um comportamento cognitivo chamado centração ou egocentrismo que o torna logicamente inconsistente (ausência de processos mentais reversíveis), incapaz de distinguir claramente eventos psicológicos de eventos físicos ou externos e confundindo a aparência com a realidade. Se anteriormente a criança manifestava um egocentrismo sensório-motor, agora o que deve ultrapassar é a tendência para não diferenciar a realidade da sua imaginação e da sua percepção (egocentrismo representativo ou pré-operatório).
A centração é a principal característica deste estádio. Dela derivam a predominância do monólogo colectivo sobre o diálogo, a constituição, num primeiro momento, da imaginação como quadro de referência da realidade [com as características mentais correspondentes (realismo, animismo, finalismo e artificialismo, que se poderiam reduzir a uma só: antropomorfismo)] e, num segundo momento, da percepção ou intuição como juiz da realidade (daí decorrendo a incapacidade em compreender o fenómeno da conservação, a confusão entre causa e efeito, a dificuldade em distinguir o todo das partes (uma classe de objetos de um objecto).
Mas, apesar de Piaget insistir sobretudo nas limitações, ao longo deste estádio há um crescente domínio da linguagem que facilita o uso do pensamento e uma progressiva descentração.












































3. O estádio das operações concretas

‘‘Neste estádio, as operações da inteligência infantil são unicamente ‘concretas’, quer dizer, incidem apenas na própria realidade e, em particular, nos objetos tangíveis, susceptíveis de serem manipulados e submetidos a experiências efetivas. Quando o pensamento da criança se afasta do real, é simplesmente porque ela substitui os objetos ausentes pela sua representação mais viva, mas esta representação acompanha-se de crença que equivale ao real. Em contrapartida, se pedirmos às crianças que raciocinem sobre simples hipóteses, sobre um enunciado puramente verbal dos problemas, perdem logo o pé e recaem na intuição pré-lógica dos pequeninos. Por exemplo: todas as crianças de 9 ou 10 anos sabem seriar cores, ainda melhor do que grandezas, mas falham completamente na resposta a uma pergunta como esta, mesmo feita por escrito. ‘A Edite tem os cabelos mais escuros do que a Lili. Os da Edite são mais claros do que os da Susana. Qual das três tem os cabelos mais escuros?’ Respondem geralmente que, tendo a Edite e a Lili cabelo escuro, e a Edite e a Susana cabelo claro, é a Lili a mais escura, a Susana a mais clara e a Edite meio clara meio escura. É especialmente por isso que sentem tanta dificuldade em resolver na escola os problemas de aritmética que, no entanto, incidem sobre operações bem conhecidas: se manipulassem objetos, raciocinariam sem obstáculos, enquanto os mesmos raciocínios aparentes, mas exigidos no plano da linguagem e dos enunciados verbais, constituem, de facto, outros raciocínios, muito mais difíceis, porque ligados a simples hipóteses sem realidade efetiva.’’

Jean Piaget, Seis Estudos de Psicologia, Publicações D. Quixote, Lisboa, p. 91

O texto de Piaget, apresenta algumas características (capacidades e limitações) deste novo estádio. Seguindo-o de perto e complementando-o, será possível caracterizar, nos seus aspectos mais importantes, o estádio das operações concretas.
Característica geral mais importante deste estádio: o pensamento e o raciocínio ultrapassam a fase pré-lógica. Surge uma forma de pensar qualitativamente distinta porque a atividade intelectual já não se submete aos dados da intuição mas a sim a regras lógicas progressivamente compreendidas e interiorizadas. Contudo, se não é a percepção que comanda o funcionamento intelectual (as operações lógicas) ela ainda é um ponto de referência indispensável, o pensamento lógico ainda não se emancipou da realidade concreta (daí o nome de estádio das operações concretas). No estádio das operações concretas, as operações lógicas efectuam-se sobre objetos e eventos presentes ou, pelo menos, dos quais já se teve experiência (nesta fase o pensamento enquanto atividade simbólica utiliza representações mentais dos objetos ainda ligadas à imagem mental da atividade perceptiva realizada: assim se alguém diz a palavra carro a uma criança entre os 8 e os 10 anos ela não pensará propriamente nas propriedades que constituem a essência desse objecto mas sim em algum momento – exterior à atual experiência perceptiva – em que viu um carro).
A aquisição do conceito de conservação – a capacidade de mentalmente representar a estabilidade no seio da mudança – é o sinal de que a fase pré-operatória foi ultrapassada. Compreende-se que, vazar líquido de um copo largo e baixo para outro estreito e alto não produz qualquer aumento do seu volume e que uma bola de plasticina pode ser transformada numa “salsicha” sem que nenhuma mudança quantitativa se verifique realmente. Está a utilizar esquemas de pensamento lógico ultrapassando o pensamento intuitivo. Note-se que, contudo, o conceito de conservação é compreendido enquanto aplicado a um determinado objecto concreto e não como aplicação de uma regra geral, aplicável a qualquer objecto conhecido ou não, que enunciaria: “Somente a adição ou a subtração de uma porção de um objecto altera a sua quantidade.” Teremos de aguardar pelo desenvolvimento do raciocínio dedutivo próprio do estádio seguinte.
Segundo Piaget, as aquisições do estádio das operações concretas derivam de uma transformação estrutural no modo de pensar denominada descentração. A descentração significa que se é capaz de, ao mesmo tempo, considerar mais do que um atributo de um objecto e de formar conceitos segundo vários critérios. Não se centrando numa única propriedade de um objecto a criança adquire a noção de conservação, isto é, compreende que alterações em dada dimensão podem ser anuladas, ou melhor, compensadas em outra dimensão.
Assim, a quantidade de líquido, no exemplo dado, mantém-se constante porque a alteração na altura do copo foi compensada por uma mudança no seu diâmetro. Esta capacidade de mentalmente anular uma mudança aparente significa que o pensamento se tornou reversível. A reversibilidade é um esquema que permite compreender que se A é maior que B então B é menor do que A. Tal esquema, torna relativamente fácil a uma criança reverter uma operação efectuada (7 + 2 = 9) retornando ao ponto inicial (9 – 2 = 7). A noção de necessidade lógica desenvolve-se claramente, assistindo-se a um declínio acentuado do egocentrismo típico do estádio anterior. A reversibilidade, manifestação do  poder de descentração, é o pré-requisito básico do raciocínio lógico (transformar e manipular mentalmente objetos, situações e problemas não perdendo de vista a sua forma original). A reversibilidade dos esquemas mentais possibilita também a compreensão do conceito de causa e o raciocínio causal: a criança capaz de representar mentalmente que desligar o interruptor faz com que a sala de aulas retorne às suas condições naturais de iluminação adquire as bases do entendimento da relação causa-efeito entre interruptor e luz.
A classificação é outra operação dominada durante este estádio. Organizar a coleção de selos por país ou por tema (e não só de um modo como é próprio do estádio anterior), e compreender que uma pessoa pode ser ao mesmo tempo pai, irmão e avô são exemplos dessa aquisição. Note-se que a criança não só distingue classes e subclasses de objetos como também a sua inter-relação. Entende que as rosas são uma subclasse das flores e que por isso não pode haver mais rosas do que flores. Hierarquiza as classes, ou seja, consegue perceber o diferente grau de extensão dos conceitos (Bobby, cão e animal são termos dispostos por ordem crescente: há mais animais do que cães e mais cães do que Bobbies). A reversibilidade mental é a condição essencial desta evolução cognitiva particular – não se centrando num aspecto, a criança dotada de pensamento lógico sabe que há várias formas válidas de classificação de um grupo de objetos (os botões podem ser classificados segundo a cor, a dimensão ou o número de buracos).
A seriação é outra das aquisições do estádio das operações concretas e corresponde à ordenação sequencial de objetos segundo um critério (ordenar objetos do mais largo para o menos largo ou vice-versa). As crianças do estádio pré-operatório até aos 5 anos conseguem, por exemplo, dispor um conjunto de tacos de bilhar do mais curto para o mais longo mas fazem-no após muitos erros e correções; as crianças entre os 6 e os 7 anos obtêm uma solução correta do problema dispondo os objetos em pequenas séries, segundo um plano ordenado. Dos 7 aos 8 anos a seriação torna-se uma inferência transitiva: da observação de que o taco A é mais comprido do que o taco B e de que o B é  mais comprido do que C, é possível inferir que A é mais comprido do que C.
Durante este período do desenvolvimento cognitivo começa a formar-se e desenvolve--se o raciocínio lógico indutivo, o processo cognitivo que consiste em atingir um princípio geral a partir dos dados empíricos particulares: a partir da observação de que acrescentar uma moeda a um grupo de moedas aumenta o seu número constrói-se, por indução, o princípio geral de que adicionar é aumentar o número ou a quantidade de determinados objetos.
Contudo, o pensamento lógico, neste estádio, ainda está demasiado preso à realidade concreta e física. É um tipo de pensamento cujo funcionamento lógico se baseia em situações e objetos concretos que podem ser manipulados, classificados e organizados. O pensamento lógico-abstracto, hipotético-dedutivo, baseado em hipóteses, possibilidades e princípios gerais, ainda está a caminho.


O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO


Estádio das operações concretas ou do pensamento lógico-concreto
Fase do desenvolvimento cognitivo em que o pensamento se torna flexível e lógico mas não consegue libertar-se da realidade concreta (identifica o real com o possível, reduz este àquele).
CARACTERÍSTICAS

No estádio das operações concretas a inteligência representativa dá lugar à inteligência operatória, isto é, lógica, as simples representações mentais, predominantes no estádio anterior, dão lugar a operações mentais. As operações mentais serão ações interiorizadas que obedecem a regras lógicas.
O pensamento, nesta fase, é incapaz de resolver problemas sem pontos de referência concretos, mas torna-se reversível e muito mais descentrado do que anteriormente. A aquisição da noção de conservação ou de identidade é sinal de que se distingue o real do aparente.
Mas não sendo presa fácil das aparências, o pensamento ainda está preso à realidade concreta, não se dá a passagem do real ao possível.
O pensamento, neste estádio, deixa de ser simplesmente intuitivo, inflexível ou rígido e contraditório. Torna-se flexível e lógico. Que tipo de lógica caracteriza o pensamento lógico-concreto? A lógica indutiva, a capacidade de a criança a partir das suas experiências concretas e particulares atingir princípios gerais.
Adquire-se a capacidade de compreender a inclusão de classes – a capacidade de pensar que os objetos podem pertencer simultaneamente a diferentes classes.
A classificação, a seriação, o desenvolvimento do raciocínio causal, a aquisição das noções de espaço, tempo e velocidade, são aquisições marcantes desta fase do desenvolvimento cognitivo.
A criança no estádio das operações concretas raciocina logicamente acerca de coisas que conhece ou que pode ver e manipular mas tem grande dificuldade e é mal sucedida no que respeita ao raciocínio sobre ideias, possibilidades, situações hipotéticas e princípios abstractos.
Para Piaget, só a partir dos 11 anos se desenvolve o raciocínio dedutivo, o pensamento lógico-abstracto.


4. O Estádio das Operações-formais

‘‘Depois dos 11 ou 12 anos, o pensamento formal torna-se precisamente possível, isto é, as operações lógicas começam a ser transpostas do plano da manipulação concreta para o plano das simples ideias, expressas numa linguagem qualquer (a linguagem das palavras ou dos símbolos matemáticos, etc.) mas sem o apoio da percepção, da experiência, nem sequer da crença. Quando se diz, no exemplo citado há pouco, ‘A Edite tem os cabelos mais escuros do que a Lili, etc.’ põem--se, com efeito, em abstracto, três personagens fictícias, que para o pensamento não passam de simples hipóteses, e é sobre estas hipóteses que se pede para raciocinar. O pensamento formal é assim ‘hipotético-dedutivo’, quer dizer, ele é capaz de deduzir conclusões a partir de puras hipóteses, e não apenas da observação real.
Quais são, de facto, as condições de construção do pensamento formal? Trata-se, para a criança, já não apenas de aplicar operações a objetos, por outras palavras, de executar em pensamento ações possíveis sobre estes objetos, mas de ‘refletir’ estas operações independentemente dos objetos e de substituir estes por simples proposições. Esta ‘reflexão’ é assim um pensamento de segundo grau: o pensamento concreto é a representação de ações possíveis sobre estes objetos e o pensamento formal é a representação de uma representação de ações possíveis.
É só depois de este pensamento formal ter tido o seu início, por volta dos 11 ou 12 anos, que a construção de sistemas que caracteriza a adolescência se torna possível: com efeito, as operações formais fornecem ao pensamento um poder completamente novo, que redunda em desligá-lo do real para lhe permitir construir à sua vontade reflexões e teorias.’’

J. Piaget, op. cit., p. 92

Conforme se avizinha a adolescência, novos desafios nos esperam. O currículo escolar torna-se mais diversificado e complexo exigindo uma libertação cada vez mais conseguida face ao concreto, isto é, a aquisição da capacidade de pensar acerca de realidades que não estejam ligadas às experiências perceptivas.
A característica distintiva deste estádio é o pensamento formal, hipotético-dedutivo. O indivíduo passa a deduzir conclusões a partir de hipóteses e já não apenas da realidade concreta. Pode agora considerar estados hipotéticos, que podem ser ou não reais, e pensar de forma dedutiva o que aconteceria se fossem verdadeiros, como seriam as coisas se certas possibilidades se tornassem realidade. Situando-se no plano do possível ou do hipotético, o pensamento da criança ou do adolescente resolverá facilmente problemas como estes: 1 – “Se João tem mais maçãs do que José e menos maçãs do que Joaquim qual deles tem mais maçãs?”; 2 – “Se A é mais alto do que B e C mais alto do que A qual deles é mais alto?”. Quem não atingiu o estádio das operações formais terá dificuldades significativas (e referimo-nos como é óbvio às crianças entre os 7 e os 10 anos) dada a sua formulação abstracta, afastada da percepção concreta. Só resolverá o problema, segundo Piaget, se lhe apresentarem objetos concretos, produzindo-se a partir deles as suas inferências.
A abertura do pensamento ao possível amplia as suas próprias possibilidades de exercício. Um adolescente, uma pessoa no estádio das operações formais, seria capaz a partir desta possibilidade abstracta “E se os dinossáurios fossem ainda vivos?”, de elaborar um raciocínio logicamente organizado sobre essa hipotética situação. A criança no estádio das operações concretas – que utiliza o raciocínio indutivo – teria enorme dificuldade em atribuir sentido a tal questão e em imaginar cenários possíveis a partir da hipotética existência dos dinossáurios. A sua resposta, típica de quem está preso ao real no seu modo de pensar e só distingue entre realidade e aparência, seria: “Não podem, já morreram há muito”.
A aptidão para aplicar operações mentais a situações hipotéticas desenvolve o pensamento abstracto e conduz o adolescente a elaborar teorias, mais ou menos sistematizadas, sobre entidades abstractas como a justiça, a liberdade, a felicidade, a moralidade, o amor, etc. A distinção entre o real e o possível dá origem a debates sobre questões morais e filosóficas, a imaginar mundos diferentes e diferentes ocupações na vida e a questionar a realidade, sob múltiplos aspectos, tal como ela é.

‘‘No estádio das operações formais, as operações são as mesmas do estádio anterior simplesmente agora vão aplicar-se a conteúdos diferentes. Quer isto dizer que o pensamento formal é reversível, descentrado e organizado num sistema de elementos interdependentes. A diferença em relação ao pensamento lógico-concreto reside no facto de lidar com hipóteses, possibilidades e conceitos abstractos. Não se exerce simplesmente sobre o que é (factos concretos) mas especialmente sobre o que pode ser (hipóteses, possibilidades). As situações não têm de ser experienciadas para poderem ser imaginadas. Perguntem a uma criança no estádio das operações concretas como seria a vida das pessoas se elas não dormissem. Ela com certeza diria ‘as pessoas têm de dormir!’. Em contraste, o adolescente que domina (nem todos o conseguem) as operações formais, tem a capacidade de pensar a partir de hipóteses exibindo uma aptidão típica do seu estádio: o raciocínio hipotético-dedutivo. A partir da situação hipotética (as pessoas não dormem) irá raciocinar dedutivamente (da premissa geral de que nenhuma pessoa dorme para implicações específicas como horários de trabalho mais longos, maior consumo de energia eléctrica, novas indústrias do entretenimento, o fim dos despertadores e das músicas de embalar).
A aptidão para encarar possibilidades abstractas é decisiva para que haja pensamento matemático e conhecimento científico. Depois do primeiro ciclo, grande parte da matemática refere-se a situações hipotéticas e postulados:
‘Admitamos que x = 10’, ou ‘Suponha que x2 + y2 = 22’, ou ‘Dados dois lados de um ângulo adjacente…’ As crianças do 1.° ciclo não conseguem raciocinar baseadas em símbolos abstractos mas espera-se esse tipo de raciocínio mais tarde.
O estudo das Humanidades também exige o pensamento abstracto. Bastará ter em conta uma questão como esta: ‘Quais as metáforas que simbolizam o amor, o desespero e a esperança nos sonetos de Shakespeare?’
A aptidão para o pensamento hipotético, considerar alternativas, identificar as possíveis combinações em torno de um problema e analisar o seu próprio pensamento tem consequências importantes e interessantes’’.
 Anita Woolfolk, Educational Psychology, Allyn and Bacon, p. 37

O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

Estádio das operações formais ou do pensamento lógico-abstracto
Estádio do desenvolvimento cognitivo em que o pensamento distingue o real do possível e se torna lógico-dedutivo, isto é, capaz de derivar conclusões lógicas formalmente válidas de hipóteses ou premissas hipotéticas.

CARACTERÍSTICAS

No  estádio das operações formais, o pensamento deixa de estar limitado pela experiência de cada sujeito, ou seja, não se limita ao presente nem ao que é.
Um adolescente — um jovem no estádio das operações formais — é capaz de raciocinar com sentido acerca de situações hipotéticas (que nunca viveu ou das quais nunca teve experiência). Pode pensar acerca de coisas que imagina, de possibilidades e não só acerca de coisas que viu ou conhece.

As três aquisições fundamentais do estádio das operações formais são:
a) A distinção entre o real e o possível – amplia o campo dos objetos do pensamento.
b) A capacidade de pensar e de raciocinar de forma hipotética-dedutiva, de pensar logicamente acerca de abstrações e de possibilidades (a justiça, a verdade, a natureza da existência, o bem e o mal, a beleza, etc.). O adolescente confronta o real com o possível, o que é com o que pode ser e o que é com o que deve ser e assim clarifica os seus valores e atitudes, componentes importantes do processo de formação da sua identidade.
c) A forma sistemática de resolução de problemas – O adolescente procura sistemática e metodicamente a resposta a uma questão. Coloca hipóteses e testa-as, não omitindo possíveis soluções, recorrendo ao raciocínio lógico. A combinação da forma sistemática de resolver problemas e do raciocínio lógico-dedutivo é necessária para que haja raciocínio científico.
 Note-se que a “revolução intelectual” da adolescência é possibilitada pela integração de competências que começaram a desenvolver--se em fases anteriores. Em segundo lugar, essa revolução não tem efeitos simplesmente cognitivos. Quando muda a relação cognitiva com a realidade, muda também a relação sócio-afectiva com os outros, os juízos de valor sobre a sociedade e o modo como nos vemos a nós próprios.





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